O Observatório Nacional dos Sistemas de Saúde apresentou recentemente o seu Relatório de Primavera de 2014 “Saúde, Síndroma de Negação”.
Trata-se de um documento da maior utilidade para os decisores políticos, desde logo para os que são responsáveis directamente pelo sector da Saúde, mas igualmente para os que têm a seu cargo a definição e a aplicação de outras políticas sectoriais, cujo impacto previsional sobre a saúde física e psíquica das pessoas, deveria sempre ser tomado em linha de conta.
É certo que o sofrimento causado pelas políticas de austeridade é uma realidade bem conhecida com que nos confrontamos diariamente,(mas sistematicamente menorizada pelo governo, com argumentos falsos de sua inevitabilidade e transitoriedade), mas faltava uma demonstração cabal de como estão a ser já nítidos, e podem ser medidos, os seus impactos sobre a saúde, em particular entre os grupos populacionais mais vulneráveis à crise.
Neste sentido, as chamadas de atenção do Observatório e os indicadores que apresenta neste seu Relatório são da maior relevância e oportunidade.
Destacamos a seguir apenas alguns desses indicadores que julgamos bem expressivos para retratar a situação actual, sendo certo de que só a longo prazo se farão sentir plenamente os impactos sobre a saúde das erradas opções das políticas que têm sido postas em prática:
- No tocante à diabetes, é registado um aumento da prevalência desta doença, o aumento persistente de re-internamentos e mais amputações de membros inferiores;
- As doenças respiratórias apresentam evolução desfavorável, a taxa de mortalidade por pneumonias em Portugal é o dobro da média europeia, existirá sub-utilização de medicamentos e acesso não equitativo a cuidados de saúde;
- A saúde mental ressente-se, de imediato e com grande intensidade em situações de crise, sobretudo quando falham apoios de proximidade: 22,9% da população portuguesa teve uma perturbação psiquiátrica em 2013 e o consumo de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos atingiu, em 2013, os valores mais altos da década, ao mesmo tempo que a resposta organizacional é insuficiente e o tempo que vai dos primeiros sintomas de perturbação até à intervenção médica é de 4 ou 5 anos, conforme as diferentes patologias.
Note-se que a prevalência anual das perturbações psiquiátricas em Portugal está entre as mais elevadas na Europa, sendo este indicador particularmente relevante, pela sua correlação com as desigualdades sociais e de saúde.
Quanto a número de suicídios, assinala–se uma forte suspeita de sub - notificação.
Sinal também preocupante é o aumento do consumo de álcool entre jovens estudantes.
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Terminado o chamado programa de ajustamento, sem o sucesso que o governo apregoa e que causou um inútil sofrimento, é urgente assumir as verdadeiras prioridades e corrigir o que foram os erros cometidos no triénio, ou teremos irremediavelmente comprometido o desenvolvimento económico e a coesão social.
Para uma melhor política de saúde, indispensável ao bem-estar das pessoas e suporte do desenvolvimento, são inestimáveis os contributos fundamentados em análise séria da realidade, como os Relatórios que o Observatório Nacional dos Sistemas de Saúde tem vindo a produzir, mesmo com as dificuldades que este refere – absolutamente lamentáveis e incompreensíveis - de acesso a dados do SNS .
Todos teremos a ganhar com o melhor conhecimento do que urge corrigir e, também, sobre o que deve ser defendido no SNS .
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