09 dezembro 2010

A nova Economia dispensa rótulos.

Na recente tomada de posição Para uma nova Economia, defende-se que é necessário (indispensável, diria!) abrir espaço de debate a distintas correntes de pensamento económico, contrariando, assim, o pressuposto ideológico de um pensamento único de cariz neo-liberal, que tão poderosamente tem influenciado - e continua a influenciar - a tomada de decisão política, com as desastrosas consequências económicas e sociais a que vamos assistindo.

Não são de hoje as vozes de eminentes cultores da Ciência económica que têm denunciado uma visão unilateral da mesma e têm formulado sérias críticas aos respectivos pressupostos; contudo, as suas vozes dificilmente encontram espaço para se fazerem ouvir, nomeadamente nos palcos da decisão política, da Administração Pública ou no mundo empresarial, todos eles unidos em santa aliança de defesa dos interesses estabelecidos.

Esta situação parece estar a mudar, como podemos deduzir dos sinais de maior abertura e pluralismo de opinião por parte de algumas publicações, como o Times, o NYT e outras.

É que o tsunami, que se levantou no sistema económico e financeiro mundial, desencadeado pela crise despoletada nos Estados Unidos no verão de 2007, e as suas trágicas consequências, vêm, agora, abrir espaço a que se façam ouvir vozes diferentes das que defendem a todo o custo o modelo vigente, sem cuidarem dos custos sociais que decorrem das medidas preconizadas que nele se apoiam e sem darem conta dos estrangulamentos que asfixiam o próprio sistema produtivo de muitos países.

Que se defenda uma Ciência Económica que vise o bem-estar individual e a qualidade de vida das pessoas, que promova o aproveitamento e o desenvolvimento dos recursos locais existentes, que cuide da equidade na repartição do rendimento, erradique a pobreza e sustente a coesão social, que redireccione o sistema financeiro de modo a colocá-lo ao serviço da economia e esta, por sua vez, ao serviço dos cidadãos e cidadãs – são objectivos que não merecem rótulos de esquerda ou direita.

O que, presentemente, está em causa é um projecto de civilização que evite a barbárie e salvaguarde a democracia. Ou seja: estamos todos confrontados com um enorme desafio para o qual as receitas do passado, sejam de direita ou de esquerda, não trazem solução.

É a hora de nos entendermos sobre objectivos democraticamente definidos e contratualizados e esquecermos rótulos arcaicos de direita e esquerda que confundem mais do que esclarecem.

1 comentário:

  1. Tem toda a razão. Mas tenho receios de que a democracia a que apela esteja refém dos sub-sistemas de poder que criou e onde há coisas mais importantes que a dicotomia esquerda/ direita, nomeadamente quando se trata da defesa dos direitos adquiridos pelas corporações instaladas. Veja-se o caso das escolas ou dos hospitais, instituições fundamentais para potenciar a percepção dos problemas e implementar as mudanças no sentido que sugere. Mas como é que isso se opera se houver objecções corporativas e resistências dos seus agentes?

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