04 maio 2019

O trabalho nas plataformas digitais: riscos e desafios



São muitas as interrogações sobre como vai ser o trabalho no futuro, com o avançar da 4ª revolução industrial. Para além das reflexões que foram surgindo um pouco por toda a parte sobre as oportunidades e os riscos ligados a esta revolução e, mais especialmente, ao alargamento da economia digital, começam a aparecer inquéritos que dão a conhecer os traços fundamentais dos trabalhadores que já estão envolvidos nesse tipo de tarefas. 

Um dos inquéritos mais importantes sobre esta matéria foi realizado pela OIT e tem por objecto as plataformas de trabalho digital (aqui). Trata-se tanto de plataformas com base na net, onde o trabalho é recrutado através de outsourcing, envolvendo trabalhadores dispersos geograficamente (crowd work), como de aplicações (apps) que recrutam trabalhadores numa área geográfica específica. O inquérito pretendeu conhecer as suas condições de trabalho e cobriu 3500 trabalhadores a viverem em 75 países, mais e menos desenvolvidos, a trabalhar em cinco plataformas microtasks de língua inglesa. 

O inquérito foi conduzido em 2015 e 2017 e permite fazer um estudo comparativo, entre outros, sobre as remunerações, a intensidade do trabalho, as rejeições e os não pagamentos, a comunicação com os clientes e os outos operadores de plataformas, a cobertura social e os tipos de trabalho realizado. 

A primeira questão colocada foi a de saber quem são estes trabalhadores, tendo-se concluído: são de todas as idades, sendo a média de 33,2 anos; as mulheres representam apenas 1 em cada 3 trabalhadores, mas nos países em desenvolvimento os números são de 1 em cada 5 trabalhadores; são detentores de um nível de educação elevado, já que menos de 18% têm um diploma do ensino secundário, ¼ um certificado técnico ou um diploma do ensino superior, 37% um mestrado e 20% uma pós-graduação. De referir ainda que 56% trabalha nas plataformas há mais de 1 ano e 29% há mais de 3 anos. 

As duas principais razões para estarem nas plataformas têm a ver com a necessidade complementar o salário de outros empregos (32%) e porque preferem trabalhar em casa (22%), sendo que neste último caso se trata fundamentalmente de mulheres com responsabilidades familiares. 

As remunerações são geralmente baixas, por comparação com outros sectores de actividade, não obstante o facto do trabalho nas plataformas digitais constituir a fonte principal dos rendimentos de 32% dos trabalhadores. De referir que cerca de 2/3 dos trabalhadores americanos inquiridos no Amazon Mechanical Turk ganhavam menos do que o salário mínimo federal de 7,27 dólares por hora. A percentagem de trabalhadores alemães a trabalhar no Clickworker com salários abaixo do salário mínimo de 8,84 dólares por hora era ainda da ordem dos 7%, para o total das horas pagas e não pagas. 

Entre as razões para os salários baixos está o tempo gasto à procura de trabalho pago (cerca de 20 minutos por cada hora de trabalho pago). Muitos destes trabalhadores gostariam de trabalhar mais horas, o que aponta para um volume significativo de subemprego e realizam trabalho para mais do que uma plataforma. Cerca de 60% dos inquiridos manifestou vontade de trabalhar fora das plataformas digitais. 

As horas de trabalho destes trabalhadores são atípicas: 36% trabalham regularmente sete dias por semana; 43% trabalham durante a noite e 68% durante o final do dia (entre as 18 e as 22 horas). Esta variabilidade deve-se tanto às diferenças horárias nas zonas para onde se dirigem as respostas, como a outros compromissos. 

As tarefas mais comuns realizadas nas plataformas digitais são simples e repetitivas e não coincidem com os graus de ensino dos seus trabalhadores, para além de não existirem perspectivas de carreira. 

(Continua)

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