29 junho 2017

Habitar as periferias: uma prioridade do sindicato de hoje e de amanhã.

Habitar as periferias. Foi com este desafio que o Papa Francisco concluiu o discurso que dirigiu aos delegados da Confederação Italiana dos Sindicatos dos Trabalhadores (CISL), na audiência de ontem, por ocasião da inauguração do respectivo XVIII Congresso Nacional que tinha por tema Pela pessoa, pelo trabalho.

Como é sabido, é vastíssima a lista dos pronunciamentos deste Papa acerca do trabalho: o destaque que este deve merecer na sociedade, na economia, na cultura; os desafios que decorrem das transformações em curso; as implicações para a dignidade da pessoa humana e a sua realização bem como para o funcionamento harmonioso das sociedades.

Neste discurso, Francisco, dadas a audiência e a circunstância, começa por salientar o alcance do binómio pessoa-trabalho, tendo em mente o tema do Congresso:  

(...)se pensamos e dizemos o trabalho sem a pessoa, o trabalho acaba se tornando algo desumano, que, esquecendo as pessoas, esquece e perde a si mesmo. 

Mas, se pensamos a pessoa sem trabalho, dizemos algo parcial, incompleto, porque a pessoa se realiza em plenitude quando se torna trabalhador, trabalhadora; porque o indivíduo se faz pessoa quando se abre aos outros, à vida social, quando floresce no trabalho. A pessoa floresce no trabalho. O trabalho é a forma mais comum de cooperação que a humanidade gerou na sua história.
 
(…) É uma sociedade tola e míope aquela que obriga os idosos a trabalhar por muito tempo e obriga uma geração inteira de jovens a não trabalhar quando deveriam fazê-lo por eles e por todos.
 
(…) O trabalho é uma forma de amor civil, lembra.
 
Atento o contexto da alocução, uma assembleia de delegados sindicais, Francisco reconhece explicitamente o papel relevante do sindicato na economia e na sociedade, mas adverte para o risco de que, com o decurso do tempo, os sindicatos se colem aos partidos políticos, aos seus interesses e linguagens, enfraquecendo a sua vocação profética de denúncia das injustiças e de menor empenho na defesa dos mais desprotegidos. Lembra que, tal como os profetas bíblicos, a missão do sindicato é dar voz a quem não tem, tanto daqueles que estão dentro como dos excluídos do trabalho que são também os excluídos da democracia.
 
Em síntese: O sindicato não desempenha a sua função essencial de inovação social se vigia apenas aqueles que estão dentro, se protege somente os direitos de quem já trabalha ou está aposentado.

Reconhece o Papa que, por distintas razões, existe hoje alguma incompreensão acerca do papel do sindicato face à inovação, à sustentabilidade do desenvolvimento ou à coesão social e denuncia que o capitalismo do nosso tempo não compreende o valor do sindicato, porque esqueceu a natureza social da economia. Esse é um dos maiores pecados.

A finalizar, Francisco deixa o desafio:
 
Habitar as as periferias pode se tornar uma estratégia de acção, uma prioridade do sindicato de hoje e de amanhã. Não há uma boa sociedade sem um bom sindicato, e não há um sindicato bom que não renasça todos os dias nas periferias, que não transforme as pedras descartadas da economia em pedras angulares.

O texto na íntegra pode ler-se aqui.

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