06 dezembro 2016

Porque é que se vai e quando é que se vai ao “en-direita”

Saberão todos o que representava (e continua a representar) em muitos dos nossos ambientes sociais um(a) endireita. Trata-se de alguém a quem se recorria (recorre), em última instância, quando os ossos doem ou estão partidos, e os médicos, mesmo os ortopedistas, ou não existem ou se existem não são capazes de dar solução aos males que são objeto de queixas dificilmente suportáveis.

A ida ao endireita surge, sempre, numa situação de desespero, em que se perdeu a esperança de encontrar solução para os problemas junto das instituições normais de funcionamento da sociedade, sobretudo, porque se deixou de se acreditar que elas possam vir, ainda, a trazer algo de bom.

Vem esta alusão aos endireitas, a propósito da velocidade estonteante com que vimos assistindo ao progresso das forças e ideologias mais retrógradas da sociedade. E tudo isto se passa dentro do quadro de funcionamento democrático da sociedade! São forças que conquistam terreno, em grande medida, graças ao voto da população de rendimentos mais baixos. Seria delas que se esperaria o melhor apoio ao funcionamento democrático da sociedade, mas verificamos precisamente o contrário. Só que os vícios de que se foi revestindo esse funcionamento, com oportunismos e corrupções de toda a espécie, conduziu a que os mais desprotegidos mais nada dele pudessem esperar.

Nestas circunstâncias as únicas alternativas são as que possuem natureza sebastianista. Nos últimos tempos são as ideologias de direita. Não se sabe muito bem se o voto nestes endireitas poderão resolver todas as angústias, mas acredita-se que qualquer solução que venha a ser adotada não será pior do que aquelas que o sistema implantado é capaz de oferecer. É, em grande medida, por isso, que vimos acontecer nos EUA, a eleição de Trump e se correm sérios riscos de ver acontecer situações semelhantes na Europa, na Hungria, na Polónia, em França, na Itália, etc.

E contra esta invasão das forças mais retrógradas não haverá nada a fazer? Há sempre alternativas, podem é trazer ou não respostas eficazes no tempo que consideraríamos desejáveis. Deixámos-nos adormecer durante demasiado tempo e, agora, quando acordamos já começa a ser tarde para encontrar respostas atempadas.

Os média em que podemos encontrar reflexões mais lúcidas, desde há algum tempo que nos vêm alertando para os perigos que podem advir do recurso a estes endireitas. Termino este comentário reproduzindo uma parte da crónica com que o Frei Bento Domingues nos tem deliciado aos domingos, no jornal Público, neste caso, na edição do último dia 4, a propósito de discurso do Papa Francisco ao receber, recentemente, os participantes no 3º Encontro de Movimentos Populares:

Enquanto vos mantiverdes no âmbito das «políticas sociais», enquanto não puserdes em questão a política económica ou a Política com «P» maiúsculo, sois tolerados. A ideia das políticas sociais concebidas como uma política para os pobres, mas nunca com os pobres, nunca dos pobres e muito menos inserida num projecto que reúna os povos, às vezes parece-me um carro de carnaval a esconder o lixo do sistema.

Quando vós, da vossa afeição ao território, da vossa realidade diária, do bairro, do local, da organização do trabalho comunitário, das relações de pessoa a pessoa, ousais pôr em causa as macro relações, quando levantais a voz, quando gritais, quando pretendeis indicar ao poder uma organização mais integral, então deixais de ser tolerados. Estais a deslocar-vos para o terreno das grandes decisões que alguns pretendem monopolizar em pequenas castas. Assim a democracia atrofia-se, torna-se um nominalismo, uma formalidade, perde representatividade, vai-se desencantando porque deixa de fora o povo na sua luta diária pela dignidade, na construção do seu destino.


NEM MAIS !

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