11 outubro 2015

No rescaldo das eleições: algo de novo?

O rescaldo das eleições legislativas de 4 de Outubro absorve o essencial da nossa atenção nestes dias de Outono. Se e como conseguirá o Partido Socialista estabelecer alianças com vista a neutralizar o resultado eleitoral da coligação PSD*CDS, sendo que a população se expressou muito significativamente contra a mesma, é a questão fundamental. Viremos a assistir a uma aproximação efectiva, e quase inédita, com os partidos mais à esquerda e, especialmente, com o PC*PEV? Ou será que o optimismo relativo que tem transparecido destes encontros fará parte de uma eventual táctica de pressão sobre a aliança de direita? Aguardemos pelos próximos desenvolvimentos.
De uma forma ou outra, o certo é que estamos a assistir à (re)emergência da política, como já tem sido reconhecido pelos comentadores “encartados”. E este aspecto constitui em si mesmo uma viragem significativa, num contexto extremamente marcado pela crescente despolitização do social sob o economicismo neoliberal. Em nome do controlo do défice público e da contenção de custos, da eficiência indispensável à competitividade, do respeito pelas regras e standards ditados pela União Europeia e, acima desta, pela globalização, tudo passou a funcionar em ambiente politicamente desnatado.
Para a inculcação de princípios novos e assépticos, como por exemplo o do primado do individualismo sobre a desigualdade entre grupos, do eficiente sobre o equitativo, do da empregabilidade sobre o do valor cidadão da educação ou, ainda, do da inevitabilidade económica contra a defesa do bem público, muito tem contribuído a maioria da comunicação social com a sua informação tendenciosa e retórica repetitiva. Como refere Franklin (2004),
The result is that these rhetorical media acts to a large extent to produce the very thing they claim to describe- politics via packaging rather than sustained debate.[1]

Pois parece que aquele debate começa a reunir condições para reaparecer, animado desde logo pelas novas formas de expressão e intervenção dos cidadãos empenhados em criar canais alternativos de participação democrática, em complemento e reforço da democracia representativa. Mas também pela manifestação da possibilidade, se não mesmo exigência, de formas renovadas de exercício do poder central, ao arrepio dos pseudo consensos, politicamente neutralizados, em torno dos partidos “do arco da governação”.
Constituirá isto um indicador do que Hanna Arendt designava “a new beggining”, ou “a man’s faculty to begin something new”[2] na constituição de novas formas de governo ou, melhor ainda, de novos sistemas de poder?






[1] Franklin, B. (2004). Packaging politics: Political communications in Britain´s media democracy, London: Arnold, citado por Clarke, M. (2012). The (absent) politics of neo-liberal education policy. In Critical Studies in Education, vol. 53, nº 3.
[2] Arendt, H. (1973). On Revolution. Londres: Penguin Press.

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