Os jornais de ontem noticiaram que os presidentes executivos dos conselhos de administração de 20 empresas
cotadas em bolsa (PSI 20) ganhavam em média 33,5 vezes mais do que o salário
médio das respectivas empresas.
Este dado, que não fui
verificar, mas que confere com outros, deveria lançar uma corrente de indignação
acerca deste tipo de desigualdade, de molde a abrir caminho para soluções que
corrijam a desproporção que ele indicia na apropriação de rendimento, associada
ao muito desigual poder de trabalhadores dependentes e gestores dentro da mesma
empresa.
Dir-me-ão que, em muitas situações, se não em todas as grandes empresas, as remunerações dos gestores são fixadas por uma comissão independente. Sucede, porém, que a composição da mesma, constituída, como é prática corrente, por outros gestores, tende a comportar-se tomando por referência a sua própria percepção (e interesse!). E, assim, temos vindo a assistir a uma escalada no nível de remunerações dos gestores portugueses que, tendo em conta as condições reais da nossa economia e o baixo nível das remunerações do trabalho que nela se verificam, constitui um verdadeiro escândalo e atentado à ética económica.
Obviamente que esta questão não se resolve pelo mercado, mas por regulação adequada, que estabeleça alguma correlação entre salário mínimo ou médio de cada empresa e a remuneração dos respectivos gestores. É assunto que merece a atenção de um governo que tome a sério a questão do combate às desigualdades bem como do Conselho Económico e Social no seu papel de concertação social e de promotor de convenções colectivas ajustadas aos vários sectores.
De notar ainda que uma repartição mais equitativa do rendimento gerado pelas empresas constitui factor de dinamização da própria economia.
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