08 março 2021

Desigualdades e corrosão democrática

 

Para compreender o descontentamento que vem alastrando nas sociedades ocidentais, visível bem antes da crise ligada à COVID19, Piergiuseppe Fortunato fez uma reflexão sobre as crescentes desigualdades experimentadas por estas sociedade e que, no seu entender, têm contribuído para a corrosão das democracias (https://www.socialeurope.eu/inequalities-and-democratic-corrosion). Segundo ele, são estas as principais razões que explicam o aumento das referidas desigualdades:

·         A distribuição funcional do rendimento, ou seja, o ratio dos salários em relação aos lucros, tem vindo a deslizar significativamente a favor do capital, desde há vários anos. Tal deve-se, em parte, à estagnação dos salários reais e, noutra parte, ao desaparecimento de muitos empregos estáveis e bem pagos, o que contribuiu para a desproporcionada polarização do mercado de trabalho.

·         A globalização e a crescente competitividade com as economias emergentes provocaram uma desindustrialização acelerada nas economias mais desenvolvidas, o que exacerbou as divisões culturais ligadas a clivagens geracionais, espaciais e socias e teriam contribuído, embora não exclusivamente, para o desenvolvimento dos movimentos populistas.

·         Em muitas sociedades verifica-se também que as desigualdades económicas estão associadas a diferenças étnicas e culturais, o que tem favorecido o aparecimento de um profundo ressentimento, que corrói a coexistência democrática.   

Uma vez identificadas as causas profundas do descontentamento, importa reduzir as desigualdades múltiplas que afectam as sociedades. Para isso, o autor que temos vindo a seguir, privilegia as políticas de emprego que: contrariem os efeitos da desindustrialização; permitam o acesso de grupos marginalizados a postos de trabalho pagos adequadamente; contribuam para favorecer o desenvolvimento local; e gerem bons empregos. Além disso, importa também adoptar urgentemente novas regras de comércio que permitam o empoderamento dos estados e do trabalho face às multinacionais.

Tendo em conta que a crise pandémica tem vindo e vai continuar a agravar as desigualdades económicas, sociais e culturais, importa perguntar se muitas das propostas de Piergiuseppe Fortunato não são ainda mais relevantes no período pós pandemia.

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