Quando vamos num túnel e nos aproximamos da saída, o
horizonte quase não existe, de tão curto que é. Este texto poderia ter por
título “O corona vírus e os prazos”, pois é disso que se trata. Sobretudo, do
predomínio do olhar de curto prazo. Conter a pandemia “já” é a principal missão
agora, segundo o Presidente da República, embora esse “já” não signifique “vistas
curtas”, pois, a meu ver, trata-se de preservar o futuro.
A pandemia é
dominadora. A nossa atenção – estimulada e muitas vezes manipulada pela
comunicação social – olha para os dias, (quase sempre com excesso de casos e
casinhos), para a semana, para as quinzenas do estado de emergência, para as
fases de vacinação, para os meses até ao verão, ao outono, ao fim do ano: tudo
curto prazo. Os horizontes fecharam-se a favor da visão de curto prazo, já para
não falar da devastação social, psicológica, económica que a pandemia está
causando e da fraqueza ou “indiferença” burocrática de algumas respostas
governamentais, a que muita da comunicação social não dá relevo.
É certo que há muito
tempo não se fala da “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica
de Portugal 2020-2030”. A propósito fui revisitar o livro de Ricardo Paes
Mamede O QUE FAZER COM ESTE PAÍS
(2015). A sua Parte II começa com “ Combater a Pobreza e as Desigualdades”, mas
também trata de “Reestruturar uma economia frágil”.
Se aceitarmos que é
compreensível esta dominação actual do curto prazo no lidar com a pandemia,
devemos pelo menos perguntar-nos o que, nas medidas a tomar neste horizonte de curto
prazo, terá alcance estratégico de melhoria de futuro. Ora cada vez se torna
mais clara para a população portuguesa não só a importância do Serviço Nacional
de Saúde como também a necessidade de lhe reforçar estruturalmente a capacidade
com condições para mais pessoal médico e de enfermagem. Aqui o conflito entre
défice, dívida e futuro tem que resolver-se a favor do futuro do SNS.
O mesmo se poderia
dizer de necessárias alterações à legislação laboral para repor a centralidade
do vínculo laboral estável, acabando, por exemplo com o escandaloso período
experimental de 6 meses (!). É urgente demolir a indiferença e lentidão burocráticas
na prestação dos apoios da Segurança Social, sobretudo aos desempregados. O
mesmo se poderá dizer dos apoios a micro-empresas, embora aqui a
sustentabilidade seja um problema de tratamento complexo.
Ora bem, tudo curto
prazo, mas com alcance de longo prazo.
Com esta insistência
nos horizontes de tempo – o curto e o longo prazo –, não esqueço outros
horizontes: o do “eu” e o do “Nós” da Fraternidade Humana, cujo dia
internacional se celebrou anteontem.
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