O conceito de antropoceno tem por base o reconhecimento de que o ser humano, através da sua actividade, tem impacto na vida do Planeta, pois o seu modo de produção e o seu estilo de vida interferem poderosamente no domínio da biosfera (emissão de gases com efeito de estufa, redução da camada de ozono, perda de biodiversidade, poluição dos oceanos, aquecimento global, etc).
O conceito de antropoceno tem vindo a ganhar particular relevância por duas ordens de razões: uma corrida acelerada ao crescimento económico, enquanto exigência intrínseca da globalização e financeirização da economia assentes na competitividade e no lucro; uma decorrência de ordem política no sentido de prover a necessidades não satisfeitas de largos estratos de população carenciada e a expectativas crescentes típicas de sociedades desiguais.
Neste quadro de referência, a revolução tecnológica, em curso e em perspectiva de futuro, vai desempenhar um papel importante a que importa prestar a devida atenção. Por um lado, oferece novas possibilidades de desenvolvimento mais consentâneas com uma ecologia integral; por outro, a sua génese e implementação comportam o risco de agravar as disrupções já em marcha, se a mesma não tiver por base o indispensável referencial ético e um esclarecido enquadramento político. Como assegurar um e outro?
Importa, assim, aprofundar o debate público acerca do crescimento económico e do desenvolvimento, distinguindo, com o devido rigor, os dois conceitos, o que leva a considerar o crescimento económico não como um fim mas como uma mediação para o desenvolvimento, integrando neste a componente de ecologia integral.
Por mais importante que seja incentivar o olhar atento e vigilante sobre a revolução tecnológica e o seu impacto, numa perspectiva antropocénica, tal não deve distrair a atenção da opinião publica e do debate político acerca de diferentes opções de curto prazo relativamente ao crescimento económico, designadamente em matérias que interferem com a produção e o consumo da energia, os transportes, o tipo de urbanização e construção de habitações, a floresta e a preservação dos espaços verdes, etc.
As temáticas atrás referidas evidenciam a importância e a urgência de ultrapassar o conceito de crescimento económico como objectivo e meta da política pública, inserindo-o, necessariamente, no contexto mais vasto do desenvolvimento sustentado, com o que tal comporta de recurso ao conhecimento de distintas áreas das ciências sociais, além da economia.
Alguns cientistas querem ir mais longe defendendo que é necessário refundar a Ciência, com uma Ciência do/para o Antropoceno pautada nas questões típicas desse novo período, tais como mudanças climáticas, escassez de água, perda de biodiversidade, desastres naturais, esgotamento de recursos naturais, desertificações, migrações, injustiça social e ambiental, pobreza etc. Que energia vai ser utilizada para produção? Que cidades, transportes e residências serão adequados? Que alimentos serão consumidos? Estes são alguns dos desafios a serem enfrentados.
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