13 outubro 2012

O erro do F.M.I.

É pouco habitual que os Relatórios do FMI tenham tão grande projecção como aquela que está a ter o recente relatório intitulado “Coping with High Debt and Sluggish Growth”(1) .

A razão para tal encontra-se no reconhecimento, pelo economista principal do Fundo, Olivier Blanchard, de que o chamado “multiplicador orçamental”, que os peritos do FMI estimavam situar-se, em média, em cerca de 0,5 (ou seja, 1% de contracção da despesa pública daria origem a 0,5% de decréscimo do PIB) estava claramente sub-avaliado. Na realidade, aquele indicador , estima agora o FMI, situa-se entre 0,9 e 1,7 desde que se entrou no período de recessão.

Segundo o FMI, é sobretudo nas economias que adoptaram planos mais agressivos de consolidação orçamental que aquele indicador se revelou sistemáticamente demasiado baixo, pelo que foi errada a previsão do seu impacto negativo sobre o crescimento do PIB e a taxa de desemprego.

Não parece tratar-se de uma descoberta recente pois estudos datados de há cerca de 11 anos já apontavam para um impacto muito superior ao admitido pelo FMI dos gastos públicos sobre o PIB.

Contudo, o debate ideológico ter-se-á sobreposto aos resultados académicos e daí ter ganho terreno a ideia de que a crise devia ser combatida com crescente austeridade.

No presente, seria expectável que, face ao reconhecimento formal pelo FMI das suas erradas previsões - que se reflectiram, nomeadamente nos chamados Planos de Ajustamento – e perante a recessão europeia a que já muito poucos países escapam, se tivesse como prioritária uma reflexão séria sobre a política económica que tem vindo a ser seguida pela União Europeia.

Como conclui Martin Wolf num artigo recente (Lessons from History on Public Debt – Financial Times de 9 de Outubro de 2012) “A austeridade orçamental e esforços para baixar salários em países que sofrem de estrangulamento monetário podem destruir sociedades, governos e, mesmo, estados. Sem maior solidariedade, não é provável que esta história acabe bem.”

É certo que, no presente, alguns analistas querem transmitir a convicção de que pode estar no horizonte o abandono de um conservadorismo orçamental, em parte baseados em sinais de maior abertura pela Alemanha, mais consciente de que a persistência nas suas ideias acabe por lhe ser desfavorável, quer no plano económico, quer no plano político, onde se arrisca a perder aliados.

Contudo, recentes divergências entre a Directora Geral do FMI e o Ministro alemão das Finanças mostram como se está longe de se ter por adquirida aquela inflexão.

Até quando continuará a ser repetido à exaustão que não há outro caminho para enfrentar a crise que não seja o de mais austeridade, custe o que custar?

Até quando resistirá a barreira ideológica que tem inspirado as políticas de austeridade, apesar da evidência dos seus maus resultados?


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(1) - http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2012/02/index.htm

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