Alguns de nós foram educados
na ideia de que aos domingos não se vai aos mercados. As coisas mudaram
bastante com a proliferação de mercados de rua e os mercados super (mercados
selvagens).
Não sendo desejável a ida
aos mercados aos domingos nada impede e até será desejável que nos tempos
atuais se aproveite os fins-de-semana para refletir sobre os mercados.
Vem este introito a
propósito da excelente crónica que o Professor Anselmo Borges publicou no
Diário de Notícias de ontem. Dele tomo a liberdade de retirar dois extratos: o primeiro
explicitando normas de bom comportamento para exaltar os mercados, o outro,
referindo os princípios que devem presidir à construção de uma sociedade
alternativa. Um e outro merecem uma leitura atenta e reflexiva (a partição em
parágrafos, minha). Ela indicar-nos-á com clareza qual é a opção que deveremos tomar no que diz respeito à ida aos mercados.
1º Extrato
“No
quadro do neoliberalismo, o economista Riccardo Petrella resumiu as novas
Tábuas da Lei (sigo a síntese do teólogo Juan J. Tamayo).
- Não
podes resistir à globalização dos mercados e das finanças – deves adaptar-te a
isso.
- Deverás
liberalizar completamente os mercados, renunciando à protecção das economias
nacionais.
- Todo
o poder pertence aos mercados: as autoridades políticas transformar-se-ão em
meras executoras das suas ordens.
- Tenderás
a eliminar qualquer forma de propriedade pública, ficando o governo da
sociedade nas mãos de empresas privadas.
- Tens
de ser o mais forte, se quiseres sobreviver no meio da competitividade actual.
- Renunciarás
à defesa da justiça social, superstição estéril, e à prática do altruísmo,
igualmente estéril.
- Defenderás
a liberdade individual como valor absoluto, sem qualquer referência ou dimensão
social.
- Defenderás
o primado da economia e da finança sobre a ética e a política.
- Praticarás
a religião do mercado com todos os seus rituais, sacramentos, pessoas, livros e
tempos sagrados.
- Não
terás em conta as necessidades dos pobres e excluídos, gente a mais, pois não
gera riqueza.
- Porás
a Terra ao serviço do capital, que é quem maior rendimento pode tirar dela, sem
atender a considerações ecológicas, que só atrasam o progresso”.
2º Extrato
“Perante esta situação que leva à catástrofe, impõe-se
uma alternativa, que Tamayo sintetiza nalguns mandamentos, "orientados
para a construção da utopia de uma sociedade alternativa".
- Ética
da libertação, com o imperativo moral: "Liberta o pobre, o oprimido."
- Ética
da justiça: "Age com justiça nas relações com os teus semelhantes e
trabalha na construção de uma ordem internacional justa."
- Num
mundo onde impera o cálculo, o interesse próprio, ética da gratuitidade:
"Sê generoso. Tudo o que tens recebeste-o de graça. Não faças negócio com
o gratuito."
- Ética
da compaixão: "Sê compassivo. Colabora no alívio do sofrimento."
- Ética
da alteridade e da hospitalidade: "Reconhece, respeita e acolhe o outro
como outro, como diferente. A diferença enriquece-te."
- Ética
da solidariedade: "Sê cidadão do mundo. Trabalha por um mundo onde caibam
todos."
- Num
mundo patriarcal, de discriminação de género, ética comunitária
fraterno-sororal: "Colabora na construção de uma comunidade de homens e
mulheres iguais, não clónicos."
- Ética
da paz, inseparável da justiça: "Se queres a paz, trabalha pela paz e pela
justiça através da não-violência activa."
- Ética
da vida: "Defende a vida de todos os viventes. Vive e ajuda a viver."
- Ética
da incompatibilidade entre Deus e o dinheiro, adorado como ídolo:
"Partilha os bens. A tua acumulação desregrada gera o empobrecimento dos
que vivem à tua volta."
- Num
mundo onde impera a lei do mais forte, ética da debilidade: "Trabalha pela
integração dos excluídos, são teus irmãos."
- Ética
do cuidado da natureza: "A natureza é o teu lar, não a maltrates, não a
destruas, trata-a com respeito.""
Aqui temos uma grande lufada de ar fresco e uma não menos
pesada responsabilidade!
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