08 outubro 2011

Eu bem dizia ! . . .

Em 1 de Abril deste ano, depois de mostrar qual era a estratégia da aranha a papar moscas, eu escrevia, no fim do texto, o seguinte: ”Porventura, o único caminho viável será o de, como a mosca, apenas voar quando surgir a “nova aurora” e virmos melhor onde está a teia dos mercados financeiros, para a sabermos evitar. Como na estratégia da aranha, ela pouco faria se as moscas soubessem evitar cair na teia!

E, o que mais se verá? Provavelmente que a aranha vai ver se apanha outro na teia, talvez a Espanha” (ver aqui) e acrescento, agora, talvez a Itália. Logo se verá quem poderá vir a seguir.

Entretanto, ontem, começamos a encontrar nos jornais notícias com títulos como os seguintes

1. "Assessor do FMI prevê colapso em duas ou três semanas" (ver aqui)

2. "Agência Fitch corta rating de Espanha e de Itália" (ver aqui).

Que pensar de tudo isto?

Que os mercados (o mercado) financeiros continuam à solta e (são) insaciáveis. Começam pelo mais frágil e, como são insaciáveis, logo que acabam com o primeiro passam ao seguinte.

E será legítimo, nestas circunstâncias, falar de mercado? Claro que não, porque a existência de mercado pressupõe que os agentes que nele intervêm possuem poder negocial equivalente. Não é isso que vemos acontecer quando o capital global resolve atacar um qualquer país.

Ao reflectir ontem sobre isto não pude deixar de me lembrar das largadas de touros em que o animal furioso e cheio de raiva (o mercado) derruba tudo o que lhe surge pela frente, nomeadamente, pessoas (países), umas atrás das outras. O massacre apenas acaba quando alguém mais conhecedor das manhas do animal o faz cair numa armadilha ou o derruba como David, com extraordinária determinação, o fez a Golias.

Procurar entrar no jogo do touro não dá, certamente, bons resultados, mas é isso que, com insistência, se procura fazer acreditar aos portugueses. Claro que quando o mercado nos tiver colocado completamente de rastos, talvez nos largue, mas isso só vai acontecer quando entender que o esforço que está a fazer para se apropriar dos nossos recursos já não é suficientemente compensador.

Então, talvez olhemos para o lado, nos arrependamos de ter renegado a Grécia, não três, mas muitas vezes, e sejamos capazes de entender melhor o que aí e cá aconteceu. Têm sido constantes as declarações de autoridades portuguesas, e não só, segundo as quais a situação portuguesa não é igual à da Grécia (ver por ex. aqui, e aqui).

Entretanto começa o segundo episódio da novela, mas com a Espanha e negar a Grécia e Portugal (ver aqui). A Espanha surge como o quarto a abater. E a Itália já se perfila no horizonte (ver atrás).

Tudo isto me traz à memória o episódio (relatado por vários evangelistas) em que Pedro receando poder ser molestado negou Jesus por três vezes.

E nós, continuaremos surdos sem ouvir o galo cantar?

Eu bem dizia! . . .

6 comentários:

  1. O galo pode cantar, e nós podemos ouvi-lo... só que estamos enredados numa teia de consumismo e acumulação de riqueza (apenas alguns) desenfreada. Então, penso que como todos os sistemas, este também vai implodir, pelo que seremos apenas espectadores do fim. Depois trataremos de "inventar" um novo modelo.E se formos capazes, um modelo mais humano, um modelo ao serviço do Homem e não contra ele!

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  2. A entrevista em que Elena Lasida afirma
    “É preciso pensar a economia como um lugar onde se constrói a vida em conjunto”
    foi finalmente publicada hoje, dia 10 de Outubro de 2011, por Paulo Miguel Madeira no Jornal Público. Porque só hoje?

    A comunicação social em Portugal ignorou olimpicamente a conferência Economia Portuguesa: Uma Economia com Futuro que decorreu no dia 30 de Setembro, na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa onde
    Elena Lasida
    fez a conferência de abertura.

    A entrevista chega tarde! Os assuntos abordados nem sequer ficam contextualizados...

    É assim a triste realidade em que muitos órgãos de comunicação preferem manter e promover a ignorância. Esquecem os responsáveis por essa opção que os cidadãos merecem respeito e têm hoje outros recursos que permitem ter acesso à informação.

    Demitindo-se perigosamente do seu papel na área da informação, são cada vez mais ultrapassados pelos acontecimentos.

    Maria do Céu

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  3. E a Irlanda?
    A Irlanda com certeza!
    Mostra aliás que esta coisa das dificuldades da dívida não tem a ver com o facto de se ser um pais do Norte ou ser do Sul.

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  4. Não nos devemos cansar de chamar a atenção para a necessidade de mudança de modelo. Ela é, contudo, apenas, uma condição necessária e não uma condição suficiente.
    Quando se fala na necessidade de mudança de modelo há a tendência para sublinhar, apenas, a mudança do modelo de consumo quando é, igualmente, essencial repensar o modelo de produção (o que se produz e como se produz) mas, também, como se faz a repartição do rendimento.
    Insistir, só, na mudança do modelo de consumo, tem, com frequência, o sabor amargo de que quem menos tem é que anda a consumir acima das suas possibilidades.
    Portanto, sim, mas . . .

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  5. A Maria do Céu começa o seu comentário citando Elena Lasida: “É preciso pensar a economia como um lugar onde se constrói a vida em conjunto”
    Em conjunto, quer dizer, com todos, de modo a que ninguém se possa sentir marginalizado da vida e da construção da vida.
    A Olimpíada que refere é uma prova que dispensamos. A Rede "Uma Economia com Futuro" em cuja Conferência a Elena participou, tem como um dos seus objectivos principais trabalhar com vista a que, cada vez mais, cada um se sinta menos fora da vida e da construção da vida.

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