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28 abril 2013

Aventura da ida aos mercados ao domingo

Alguns de nós foram educados na ideia de que aos domingos não se vai aos mercados. As coisas mudaram bastante com a proliferação de mercados de rua e os mercados super (mercados selvagens).
Não sendo desejável a ida aos mercados aos domingos nada impede e até será desejável que nos tempos atuais se aproveite os fins-de-semana para refletir sobre os mercados.
Vem este introito a propósito da excelente crónica que o Professor Anselmo Borges publicou no Diário de Notícias de ontem. Dele tomo a liberdade de retirar dois extratos: o primeiro explicitando normas de bom comportamento para exaltar os mercados, o outro, referindo os princípios que devem presidir à construção de uma sociedade alternativa. Um e outro merecem uma leitura atenta e reflexiva (a partição em parágrafos, minha). Ela indicar-nos-á com clareza qual é a opção que deveremos tomar no que diz respeito à ida aos mercados.
1º Extrato
“No quadro do neoliberalismo, o economista Riccardo Petrella resumiu as novas Tábuas da Lei (sigo a síntese do teólogo Juan J. Tamayo).
- Não podes resistir à globalização dos mercados e das finanças – deves adaptar-te a isso. ­
- Deverás liberalizar completamente os mercados, renunciando à protecção das economias nacionais.
- Todo o poder pertence aos mercados: as autoridades políticas transformar-se-ão em meras executoras das suas ordens.
- Tenderás a eliminar qualquer forma de propriedade pública, ficando o governo da sociedade nas mãos de empresas privadas.
- Tens de ser o mais forte, se quiseres sobreviver no meio da competitividade actual.
- Renunciarás à defesa da justiça social, superstição estéril, e à prática do altruísmo, igualmente estéril.
- Defenderás a liberdade individual como valor absoluto, sem qualquer referência ou dimensão social.
- Defenderás o primado da economia e da finança sobre a ética e a política.
- Praticarás a religião do mercado com todos os seus rituais, sacramentos, pessoas, livros e tempos sagrados.
- Não terás em conta as necessidades dos pobres e excluídos, gente a mais, pois não gera riqueza.
- Porás a Terra ao serviço do capital, que é quem maior rendimento pode tirar dela, sem atender a considerações ecológicas, que só atrasam o progresso”.
2º Extrato
“Perante esta situação que leva à catástrofe, impõe-se uma alternativa, que Tamayo sintetiza nalguns mandamentos, "orientados para a construção da utopia de uma sociedade alternativa".
- Ética da libertação, com o imperativo moral: "Liberta o pobre, o oprimido."
- Ética da justiça: "Age com justiça nas relações com os teus semelhantes e trabalha na construção de uma ordem internacional justa."
- Num mundo onde impera o cálculo, o interesse próprio, ética da gratuitidade: "Sê generoso. Tudo o que tens recebeste-o de graça. Não faças negócio com o gratuito."
- Ética da compaixão: "Sê compassivo. Colabora no alívio do sofrimento."
- Ética da alteridade e da hospitalidade: "Reconhece, respeita e acolhe o outro como outro, como diferente. A diferença enriquece-te."
- Ética da solidariedade: "Sê cidadão do mundo. Trabalha por um mundo onde caibam todos."
- Num mundo patriarcal, de discriminação de género, ética comunitária fraterno-sororal: "Colabora na construção de uma comunidade de homens e mulheres iguais, não clónicos."
- Ética da paz, inseparável da justiça: "Se queres a paz, trabalha pela paz e pela justiça através da não-violência activa."
- Ética da vida: "Defende a vida de todos os viventes. Vive e ajuda a viver."
- Ética da incompatibilidade entre Deus e o dinheiro, adorado como ídolo: "Partilha os bens. A tua acumulação desregrada gera o empobrecimento dos que vivem à tua volta."
- Num mundo onde impera a lei do mais forte, ética da debilidade: "Trabalha pela integração dos excluídos, são teus irmãos."
- Ética do cuidado da natureza: "A natureza é o teu lar, não a maltrates, não a destruas, trata-a com respeito.""
Aqui temos uma grande lufada de ar fresco e uma não menos pesada responsabilidade!

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