25 janeiro 2016

O Fórum Económico Mundial e o Futuro do Trabalho

O Relatório recentemente apresentado em Davos sobre o Futuro do Trabalho defende que a quarta revolução industrial em curso, em articulação com outros factores socioeconómicos e demográficos, está a levar a alterações muito grandes na actividade económica. Estas alterações estão a provocar roturas no mercado de trabalho, com o aparecimento de novas categorias de trabalhos, destinadas a substituir parcial ou totalmente as categorias anteriores.
Apesar das adaptações que são apresentadas para enfrentar este desafio, a previsão para o período 2015-2020, dos empregos criados (mais 2 milhões) e dos empregos destruídos (menos 7,1 milhões) é fortemente penalizador para os segundos, o que resulta num enorme saldo negativo de 5,1 milhões.
Acresce que as vantagens associadas à tecnologia estão a proporcionar mais riqueza, mas não há nenhuma lei económica que diga que todos vão beneficiar proporcionalmente. Pelo contrário, está-se a assistir a uma desmesurada concentração da riqueza e do rendimento.
É urgente, por isso, discutir sobre o que deve ser feito para impedir estes previsíveis efeitos negativos. Mais do que a defesa de medidas avulsas, há que regressar ao debate sobre um novo modelo para o emprego. A construção deste novo modelo exige alterações institucionais e mudanças nas políticas, designadamente de educação e de formação, do mercado de trabalho, dos salários, da repartição da riqueza e dos rendimentos, da segurança social, etc..
Daí o regresso, provavelmente ainda com mais força nos tempos próximos, a um debate a temas tão diversos como são a partilha do trabalho, o rendimento mínimo universal, a flexibilidade do produto e do trabalho e a flexisegurança, os créditos fiscais, a negociação colectiva do trabalho.

Mais do que tentar defender modalidades de trabalho que se arriscam a ser obsoletas, há que passar para novas formas de trabalhar, capazes de contribuir para uma maior prosperidade, mas que não ponham em causa a coesão social, nem a dignidade do trabalho e os direitos dos trabalhadores, ainda que estes últimos tenham que ser sujeitos a formulações que contemplem mais eficientemente a defesa de novos e velhos riscos. 

1 comentário:

  1. Sim, a autora tem toda a razão em chamar a atenção para as consequências que a Quarta Revolução tecnológica seguramente terá para a concepção do trabalho, do estatuto do trabalhador e seus direitos, do emprego e desemprego, etc. Qualquer programa de política económica e social não pode deixar de ter presente estes novos desafios. Stiglitz e outros chamam a atenção para a necessidade de reescrever as regras do modelo económico, designadamente no que se refere à regulação do mercado. A meu ver, neste reescrever das regras merece lugar de destaque o próprio conceito de empresa e da sua responsabilidade social.
    Com vista ao desenho do nosso futuro colectivo, haveria que ter a ousadia de promover amplos e aprofndados debates sobre estas questões de fundo.

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