11 agosto 2012

Empobrecimento Compulsivo dos mais Pobres?


Ontem ouvi o presidente de BCE declarar que a solução para a crise financeira passava por uma maior redução dos salários nas economias com problemas de endividamento externo.

Uma tal afirmação, além de não ter em conta quaisquer preocupações ético-políticas relativamente aos seus reflexos no consequente agravamento da desigualdade e da pobreza, parece esquecer duas outras consequências.

A primeira é que a redução do salário mínimo induz diminuição imediata na procura de bens de consumo básico, com reflexos conhecidos no desincentivo à actividade económica para o mercado interno.

A segunda consequência prende-se com a previsível diminuição das receitas fiscais por efeito de menor base de incidência tributária e, consequentemente, menor possibilidade de satisfação dos encargos com a dívida e contenção do endividamento público.

Não se argumente com o mito do automatismo de que os baixos salários atraem o investimento, criam emprego, favorecem as exportações e geram maior crescimento económico… A realidade desmente a sua veracidade.

Parecendo tão elementares estes raciocínios que qualquer aluno dos primeiros anos de Economia saberia justificar e desenvolver, que razões escondidas levarão Mário Draghi a propor o agravamento do empobrecimento dos mais pobres como solução para acrise da dívida? Ganhar tempo para favorecer o negócio da dívida e os interesses dos especuladores?

Não consigo entender.

2 comentários:

  1. A OIT reagiu imediata e veementemente a essa recomendação, como pode ler-se no Público de 10.08.2012
    "A Organização Internacional do Trabalho (OIT) já veio contestar a recomendação do Banco Central Europeu (BCE) a alguns países da zona euro, entre eles Portugal, para baixarem os salários, alertando para o efeito negativo que a medida produziria no mercado de trabalho e na economia."
    Sublinho esta parte:
    "Uma reforma no sentido de baixar salários [...] agravaria a actividade económica dos países, sem ganhos de competitividade – produzindo o efeito contrário ao objectivo referido pelo BCE. E se a política de baixa do custo do trabalho for seguida ao mesmo tempo por vários países, o efeito recessivo da medida anula o impacto que se perseguiria com os ganhos de competitividade, explica a Organização Internacional do Trabalho.

    E...
    Deixo aqui o LINK

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  2. Acho que é mesmo para "favorecer o negócio da dívida e os interesses dos especuladores". Ainda hoje, numa entrevista ao jornal Público, João Salgueiro - que muito provavelmente não exprimiria tal interpretação - respondendo à questão sobre se a transferência do poder parlamentar para o poder financeiro contribuiu para esta crise,afirma:"Claro que sim, mas não foi por acaso, porque é uma política desejada por alguns governantes. E deu-se maior poder aos mercados, incluindo os financeiros. Não há um governo mundial, mas há um mercado mundial com influência em todos os países do mundo..." Mário Graghi parece favorecer esse sistema, o que até não será para admirar, basta ver o currículo, em que avulta o inevitável Goldman&Sachs.

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