06 abril 2019

A Cimeira Sino-Europeia e a Europa do(s) Brexit(s)



Lê-se a imprensa diária e semanal portuguesa e dificilmente se apanha uma notícia sobre um facto importante que se avizinha: estamos apenas a três dias da realização da cimeira sino-europeia. Quais os antecedentes mais significativos deste encontro de alto nível? Quais as expectativas, ou receios, da União Europeia (U. E.) e do Sr. Xin Jinping?

A verdade é que a opinião pública portuguesa, anestesiada pelos faits-divers das relações familiares na política e da reinterpretação ad nauseam  do significado dos discursos políticos a tal respeito, pouco ou nada se tem debruçado sobre aquele assunto. Notícias esparsas vão dando conta das deslocações do presidente Xi a diferentes países europeus, como Portugal, a França, a Itália. Pouco se vai, no entanto, ao fundo das questões, pouco se debate ou se questiona sobre aspectos como[1]:

- a coincidência no tempo das visitas europeias do presidente chinês com a crise despoletada pela iminência do Brexit e a aproximação das eleições para o Parlamento Europeu;

- o verdadeiro interesse, por parte da China, em fazer associar à nova Rota da Seda (BRI – Belt and Road Initiative) o maior número possível de estados europeus (e não só);

- as diferenças de atitude dos países europeus visitados, especialmente a França e a Itália: enquanto o Sr. Macron convidou também a chanceler Ângela Merkel e o presidente da Comissão Europeia para as reuniões com Xi Jinping, o governo populista italiano assinou unilateralmente um memorando de entendimento com a China com vista à adesão àquela Rota…

O que se pode deduzir destes factos? Como em post anterior referíamos, a política de investimentos estratégicos associada à BRI tem vindo a traduzir-se na contracção de importantes dívidas por parte dos “beneficiários” à economia chinesa. O que sucede com tanto mais probabilidade quanto mais fracas, ou ausentes, forem as políticas de investimento dos países destinatários.

Não admira, assim, que se multipliquem as opiniões que defendem a necessidade de a U.E. se apresentar como um bloco unificado face à estratégia chinesa, já que a importância estratégica daquele investimento em cada estado membro pode afectar a evolução do conjunto.

Será que, havendo condições para tal, se irá ainda a tempo? O processo do Brexit e suas atribulações, a posição isolacionista da Itália e as dificuldades sistemáticas da União em chegar a políticas comuns não parecem prenunciar um desfecho positivo para uma tal resposta unificada.


[1] Para maior aprofundamento ver, por exemplo, Project-Syndicate de 27 de Março de 2019, em
https://www.project-syndicate.org/commentary/europe-must-unite-on-china-policy-by-guy-verhofstadt-2019-03.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os comentários estão sujeitos a moderação.