27 março 2019

União ou Desunião?



Num artigo dos finais de 2018 (aqui), Habermas chamava a atenção para o facto dos principais jornais e revistas alemãs terem dado pouca atenção e apreço à crítica da condução das políticas de austeridade por parte de Schauble e Merkel e, menos ainda, sobre os custos humanos e sociais desencadeados por tais políticas, particularmente nas economias mais frágeis. Sendo que na União Europeia as opiniões públicas são quase exclusivamente formadas dentro das fronteiras nacionais, não admira que tenham surgido narrativas contraditórias da crise nos diferentes países da Zona Euro. De acordo com Habermas, estas narrativas envenenaram profundamente o clima político e impediram a um debate sobre os problemas que afectam por igual todos os Estados Membros e, acima de tudo, a adopção de políticas pró-activas, capazes de enfrentar interesses comuns de forma cooperativa. 

Por outro lado, as leis rígidas impostas ao Estados Membros da Zona Euro, sem que se tenham criado competências compensatórias e flexibilidade na condução das políticas, traduziram-se em vantagens para os membros economicamente mais fortes e um sentimento de injustiça do lado dos “perdedores”. 

Estas constatações devem ser hoje objecto de reflexão, já que estamos a poucos meses de mais uma eleição europeia, no momento em que a União enfrenta sérias dificuldades, de que são exemplo o reforço do populismo de extrema-direita e o Brexit. 

A existência de um espírito cooperativo é hoje mais urgente do que nunca, tendo em conta que nenhuma união monetária pode sobreviver a prazo com divergências cada vez maiores na performance das diferentes economias nacionais e nos níveis de vida dos diferentes Estados Membros. Será que que ainda vamos a tempo?

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