15 julho 2022

É possível uma economia alternativa?


 

1. Há hoje um sentimento generalizado de preocupação e até de medo do futuro. Seja por causa da degradação das condições climáticas, da degradação das condições económicas da maioria da população ou mesmo da instabilidade política e social que se vive um pouco por todo o mundo. E, pelo menos no que respeita às alterações climáticas, é seguro que as mesmas vão agravar-se nos próximos tempos, mesmo que suspendêssemos de imediato os factores que para elas têm vindo a contribuir.

 

2. Face a uma tal situação parece inquestionável que ou há uma alternativa ao modo como actualmente dispomos dos recursos que o planeta, a nossa casa comum, nos disponibiliza ou então a médio/longo prazo o nosso comportamento levar-nos-á inexoravelmente a 6ª extinção da vida na Terra, em cujo limiar, aliás, já nos encontramos, segundo vários cientistas.

 

3. Na nossa opinião, e de um modo simplificado, há dois quadros-tipo de alternativa possíveis, pelo menos a médio prazo:

 

a) um, cujas opções visam reduzir a pegada ecológica da produção e do consumo sem tocar na lógica do lucro e sem afectar o estilo de vida dos seus principais beneficiários. É, obviamente, a tese preconizada pelos grandes interesse instituídos. Porém, para além de acharmos que tal opção não evita, a longo prazo, a referida extinção, consideramos que ela só é possível de implementar contando com a alienação e resignação das populações ou então por via autoritária e em ambos os casos obedecendo um estilo de governação que apelidaríamos de “orwelliana”.

 

b) outro quadro-tipo,igualmente possível mas também com condições, teria como principais características:

i) em primeiro lugar, o respeito pelos limites impostos pelo planeta, ou seja, a capacidade regenerativa da Terra;

ii) em segundo,uma base social de bem-estar para todos, que garanta os bens essenciais à vida, todos eles, aliás, contemplados nos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pelas Nações Unidas;

iii) em terceiro lugar, uma distribuição da riqueza criada que compense efectivamente o mérito e o trabalho em detrimento da posição social (herdada ou obtida através da usura, especulação ou outras práticas ilícitas);

iv) por último, uma postura face à vida que valorize também os bens não materiais, tais como a convivialidade ou o tempo de que dispomos para nós próprios.

 

4. Uma tal alternativa implicaria, quanto a nós:

   

a) a cooperação (e não a competição) como forma predominante de obtenção dos bens e serviços inerentes à vida;

 

b) a repartição equitativa da riqueza sobrepondo-se ao lucro como principal objectivo;

 

c) a autonomia energética, alimentar e financeira das várias comunidades/regiões;

 

d) um Estado com efectivo poder regulador, uma fiscalidade que inclua os custos ambientais no preço dos produtos e uma acção social que, neste caso, já seria apenas supletiva;

e por último aquilo que consideramos uma condição sine qua non:

 

e) uma alteração de comportamento da sociedade civil no seu estilo de vida e no exercício da cidadania; no primeiro caso, cada um tomando consciência do seu papel enquanto produtor, consumidor e aforrador e no segundo, mediante a participação, individual ou colectivamente , nas decisões políticas que dia após dia vão determinando o modo como vamos (sobre)viver no futuro próximo.

Mas uma tal participação pressupõe motivação suficiente baseada na indignação com os desvarios, conluios, “desonestidades” e atrocidades de que vamos tendo conhecimento cada dia que passa.

É portanto a ética, sempre a ética, a determinar o nosso futuro comum.

 

 

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