18 dezembro 2014

É tempo de repensar o Capitalismo e a Ciência Económica deve dar o seu contributo

Nas últimas décadas não têm faltado sinais de alerta de que o sistema económico vigente carece de uma profunda reforma.

Basta recordar as sucessivas crises financeiras que, com maior ou menor intensidade, têm afectado a generalidade das economias desenvolvidas, o crescente endividamento externo existente em muitos países, o peso da dívida pública nos orçamentos de um número crescente de Estados da zona euro bem como em outras latitudes, a que vem somar-se um elevado desemprego estrutural e de longa duração, o trabalho precário, o preocupante aviltamento dos salários e a desconexão das remunerações do trabalho com o aumento da produtividade, a crescente desigualdade na repartição do rendimento e da riqueza, com excessiva concentração de património e consequente distorção do poder económico e tendência para a capturação do poder político pelo poder económico e financeiro, a fragilidade da coesão social e existência de sérias ameaças à democracia e à paz.
 
Neste cenário de disfuncionalidades, avultam como possíveis causas: a globalização da economia sem correspondente regulação dos mercados, o elevado grau de monopólio real em sectores-chave e consequente extracção de rendas, a hegemonia do capital financeiro e a proliferação das engenharias financeiras de difícil controlo, o modo de apropriação do conhecimento e inovação tecnológica desvinculado do interesse comum, a liberalização do comércio mundial em condições de forte desigualdade em relação à salvaguarda dos direitos humanos, os offshores, o enfraquecimento do poder democrático por parte dos Estados.
 
Face à complexidade da problemática em causa, a Academia tem-se mantido demasiado discreta, muito embora haja a assinalar excepções significativas que não é demais sublinhar. Ainda que com carácter singular, vão fazendo caminho, mais no domínio da denúncia dos equívocos da Ciência económica dominante do que na apresentação de modelos alternativos abertos ao repensar do capitalismo. Mas também neste campo se esboçam sinais portadores de futuro que importa salientar. 
É assunto a que voltaremos.

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