06 fevereiro 2021

O Corona Vírus Não Deixa Olhar Para O Futuro

 


Quando vamos  num túnel e nos aproximamos da saída, o horizonte quase não existe, de tão curto que é. Este texto poderia ter por título “O corona vírus e os prazos”, pois é disso que se trata. Sobretudo, do predomínio do olhar de curto prazo. Conter a pandemia “já” é a principal missão agora, segundo o Presidente da República, embora esse “já” não signifique “vistas curtas”, pois, a meu ver, trata-se de preservar o futuro.

A pandemia é dominadora. A nossa atenção – estimulada e muitas vezes manipulada pela comunicação social – olha para os dias, (quase sempre com excesso de casos e casinhos), para a semana, para as quinzenas do estado de emergência, para as fases de vacinação, para os meses até ao verão, ao outono, ao fim do ano: tudo curto prazo. Os horizontes fecharam-se a favor da visão de curto prazo, já para não falar da devastação social, psicológica, económica que a pandemia está causando e da fraqueza ou “indiferença” burocrática de algumas respostas governamentais, a que muita da comunicação social não dá relevo.

É certo que há muito tempo não se fala da “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030”. A propósito fui revisitar o livro de Ricardo Paes Mamede O QUE FAZER COM ESTE PAÍS (2015). A sua Parte II começa com “ Combater a Pobreza e as Desigualdades”, mas também trata de “Reestruturar uma economia frágil”.

Se aceitarmos que é compreensível esta dominação actual do curto prazo no lidar com a pandemia, devemos pelo menos perguntar-nos o que, nas medidas a tomar neste horizonte de curto prazo, terá alcance estratégico de melhoria de futuro. Ora cada vez se torna mais clara para a população portuguesa não só a importância do Serviço Nacional de Saúde como também a necessidade de lhe reforçar estruturalmente a capacidade com condições para mais pessoal médico e de enfermagem. Aqui o conflito entre défice, dívida e futuro tem que resolver-se a favor do futuro do SNS.

O mesmo se poderia dizer de necessárias alterações à legislação laboral para repor a centralidade do vínculo laboral estável, acabando, por exemplo com o escandaloso período experimental de 6 meses (!). É urgente demolir a indiferença e lentidão burocráticas na prestação dos apoios da Segurança Social, sobretudo aos desempregados. O mesmo se poderá dizer dos apoios a micro-empresas, embora aqui a sustentabilidade seja um problema de tratamento complexo.

Ora bem, tudo curto prazo, mas com alcance de longo prazo.

Com esta insistência nos horizontes de tempo – o curto e o longo prazo –, não esqueço outros horizontes: o do “eu” e o do “Nós” da Fraternidade Humana, cujo dia internacional se celebrou anteontem.

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