03 julho 2020

Pôr o motor da economia a trabalhar

O aparecimento de uma pandemia com as características do COVID-19 está a afetar pesadamente não só a situação sanitária em Portugal, mas, também, as condições sociais e económicas da sua população.

Os media e as redes sociais dão conta diariamente dos números dos infetados, dos internamentos hospitalares, dos doentes em cuidados intensivos e, desgraçadamente, das vidas ceifadas pela epidemia. Por outro lado, não é possível ignorar os problemas com que se debatem os portugueses, expressos através do recurso crescente aos apoios sociais, em que a carência das necessidades básicas alimentares e o aumento do número dos sem abrigo constituem porventura o traço mais preocupante.

No curto prazo, houve que procurar responder às necessidades criadas por uma situação nova, que tornou, contudo, ainda mais visíveis as fragilidades da sociedade portuguesa, em termos sanitários, económicos e sociais.

O esforço que está a ser despendido para resolver os problemas que, no dia a dia, se vão multiplicando, e que consomem uma parte considerável das energias do país, não deve, porém, fazer esquecer as preocupações com a retoma da economia.

As previsões sobre o decréscimo do PIB e o aumento do desemprego, a par das dificuldades sentidas por empresas de grande dimensão de que são exemplo a TAP e na EFACEC, para já não falar no NOVO BANCO, exigem que não se deixe a recessão económica consolidar-se.

Num recente artigo de Ricardo Cabral no Público [i], defendia-se que era preciso pôr rapidamente o motor da economia a trabalhar, uma vez que existiam condições para o fazer, sem esperar pelos projetos do novo Fundo de Recuperação Europeu. Estas condições estavam fundamentalmente ligadas às baixas taxas de juro existentes, que permitem que a nova dívida emitida não tenha custos relevantes.

Face às reduções previstas, haveria que conduzir políticas públicas promotoras da atividade económica e do emprego. “Para esse efeito, parece necessário planear e implementar grandes projetos de investimentos públicos que mobilizem já a partir do ano corrente capital e trabalho numa escala comparável à perda de atividade económica e de emprego que ocorre em resultado da covid-19 e que oriente a economia para novos sectores”. Tendo em conta um decréscimo estimado do PIB da ordem dos 10%, é proposto um aumento do investimento público de cerca de 10 mil milhões de euros, por ano, entre 2020 e 2022.

Como é evidente, esta proposta em nada se opõe à elaboração das políticas de médio e longo prazo, a financiar pela Europa, que exigem que sejamos capazes de acordar sobre as estratégias para o futuro, já que na feliz expressão de uma académica em Portugal, com a pandemia “o futuro aterrou de forma rápida no presente” [ii]



[i] Público, 29 de Junho de 2020
[ii] Maria João Valente Rosa, Público, 2 de Julho de 2020

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