30 março 2020

O coronavírus e o nosso mundo


                                 



Um minúsculo ser acaba de desencadear uma catástrofe de proporções gigantescas, afectando quase, senão todos, os países do mundo. O que parece suscitar um motivo de reflexão: também neste aspecto, temos mesmo que contar com a Natureza.

Considerandos à parte, é indubitável o sofrimento, para uns pela perda de entes queridos, e para os restantes pela apreensão quanto à amplitude e duração de algo que nos afecta a todos.

Como também já não há qualquer dúvida de que as alterações na vida das pessoas vão traduzir-se numa recessão económica, também ela de amplitude, duração e consequências difíceis de avaliar.

Ora, as condições de vida já de si débeis para uma parte significativa da população (porque impostas por uma economia global que, não obstante o enorme progresso científico e tecnológico alcançado pela humanidade, tem vindo, década após década, a afastar-se daquilo que deve ser o fim último da economia: proporcionar condições de conforto material a todos, mas todos!, os seres humanos) vão decerto agravar-se.

Como era de esperar, as soluções até agora propostas para mitigar (um termo que, curiosamente, entrou no discurso actual por via das alterações climáticas: também aí temos que “mitigar”, não prevenir, não solucionar!) os efeitos da recessão baseiam-se em dívidas a pagar através de posteriores políticas de austeridade; não vão portanto, passada a recessão, alterar as condições de vida de muitas camadas da população mundial.

Como nos diz, sabiamente, Albert Einstein, “o mundo tal como o criámos é um processo do nosso pensamento. Não pode ser alterado se não alterarmos o pensamento”.

O que, na minha opinião, parece hoje (mais) evidente é que sem acabarmos com a supremacia do poder económico (leia-se: interesses dos oligopólios e da alta finança, a que, eufemisticamente apelidamos de “mercados”) face ao poder político, não é possível enfrentar o futuro com confiança, determinação e paz social.

Com efeito, sob a capa de uma “liberdade de circulação de capitais”, aqueles interesses alimentam offshores, evasão e fraude fiscal, especulação, branqueamento de capitais e até mesmo o crime organizado.

Só no dia em que a humanidade reconhecer como ultrajante, e portanto intolerável, a existência de paraísos fiscais, de lucrativos negócios em torno da produção e venda de armamento promotores de guerra, de exploração e aniquilação de seres humanos, só então começaremos a resolver os nossos problemas, começaremos a construir uma nova sociedade, mais humana, mais solidária, mais fraterna.

Façamos votos de que estes tempos de privação e recolhimento justifiquem as palavras de Bill Mollison: “a humanidade está envolvida num processo de expansão evolutiva da consciência”.

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