12 setembro 2019

Testemunho de um economista social



No passado dia 11 de Setembro foi apresentado, no Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, casa onde desenvolveu a maior parte da sua profícua actividade profissional, o livro “Testemunho de um Economista Social comprometido na Humanização do Mundo”, da autoria do Dr. João Moura. Trata-se de um livro de memórias daquele que foi provavelmente o único Director Geral da Administração Pública que transitou do regime do Estado Novo para o pós 25 de Abril. 

Depois de um período de actividade no sector privado, o Dr. Moura sentiu que “era no sector público que conseguia sentir um forte sentimento de estar a trabalhar mais directamente para o interesse geral”. 

A sua experiência profissional foi particularmente relevante no seio de organizações como o Fundo de Desenvolvimento da Mão de Obra, onde foi Director, entre 1964 e 1971, e esteve envolvido na criação da Formação Profissional Acelerada e do Serviço Nacional de Emprego e, mais tarde, do Instituto de Emprego e Formação Profissional e do Observatório do Emprego e Formação Profissional, tendo trabalhado até à reforma (1971/97) no Departamento de Estudos e Planeamento do Ministério do Trabalho. 

O livro constitui um importante documento sobre a Administração Pública Portuguesa, particularmente a relacionada com o Trabalho e a Segurança Social, bem como as ligações que ela foi estabelecendo, a nível internacional, especialmente com a OCDE, a OIT e o Conselho da Europa, onde o autor representou o país por vários anos. 

O Dr. João Moura apresenta-nos uma descrição e reflexão minuciosas da sua actividade, durante os muitos anos em que esteve ao serviço, inspiradas pela sua formação cristã, em particular as relacionadas com a Doutrina Social da Igreja, que descobriu quando ainda existiam apenas algumas Encíclicas Sociais, mas que foi acompanhando ao longo do tempo. Nesta área, realizou ainda inúmeras acções na Igreja, destacando-se os encontros com Diplomados Católicos sobre questões económico-sociais. Daí que no prefácio do livro, da autoria do falecido Bispo Emérito de Setúbal, Dom Manuel da Silva Martins, se afirme que “É de louvar esta paixão por matérias que, afinal, terão mesmo a ver com a sorte do mundo e com o modo de ser e estar da Igreja no mundo”. 

É impossível deixar de comparar o tempo descrito no livro com o actual, em que as restrições ao recrutamento e os congelamentos das carreiras e dos salários levaram a uma crise, que afectou gravemente as capacidades existentes. 

Por último, desejo exprimir uma palavra de reconhecimento e gratidão pelos ensinamentos e acompanhamento que o Dr. Moura sempre me dispensou, quando trabalhei sob a sua direcção.

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