06 fevereiro 2019

O Futuro da Europa e as Migrações


Dia após dia somos confrontados com o drama de migrantes e refugiados que na Europa procuram uma vida melhor, ou simplesmente defender a sua sobrevivência, ameaçada pela miséria, os conflitos ou os desastres ecológicos.

Sendo certo que a pressão migratória se manterá no futuro é preocupante que a Europa ainda não tenha tido a capacidade de se mobilizar para lhe dar uma resposta eficaz e digna, sinal de que algo está a falhar na compreensão do fenómeno migratório e de seu impacto sobre a política e a harmonia social.

São já bem visíveis os avanços de nacionalismos xenófobos, alimentando-se o risco de acelerada degradação da democracia europeia.

O jornal Libération publicou, no dia 3 deste mês de fevereiro, um artigo de Eric Favereau e Thibaut Sardier – sobre uma conversa entre dois sociólogos de renome - Edgar Morin e Alain Touraine – em torno da sua visão de um mundo igualitário e solidário, ambos manifestando a convicção de que o olhar europeu sobre os migrantes é uma “questão teste” que se coloca a uma União em declínio.

Da leitura deste artigo, apresento a seguir algumas notas de leitura, apenas com o intuito de chamar a atenção de outros, bem melhor preparados, e, em geral, de quem sente vergonha por aquilo que se passa no Mediterrâneo, para que não desistam de uma Europa democrática. 

Para Touraine o fundamental, muito para além da questão de deixar ou não entrar os imigrantes, é saber se aceitamos uma visão do mundo igualitária ou seja, se queremos mesmo “apagar a imensa nódoa de uma experiência de dominação, ligada à colonização, à escravatura, à inferioridade das mulheres“.

Assim, migrantes e mulheres ocupam o mesmo plano na humanidade que se deve reconhecer como uma unidade, um conjunto de seres em que todos são iguais e livres:” liberdade, igualdade, fraternidade”, a que Touraine gosta de acrescentar a noção de” dignidade”.

Apesar de todas as dificuldades sentidas, sendo a mais recente o fracasso de uma tentativa de construir uma lista “Para uma Europa migrante e solidária” tendo em vista as eleições do Parlamento Europeu, Touraine mantém o imperativo da defesa da Europa, considerando o que de positivo ela tem construído, e propõe que seja reorganizado o debate em torno do tema geral da democracia em ordem a uma posição comum.

A perspectiva de Edgar Morin é também a de que é necessário apelar ao nosso sentimento de identidade humana, pois todos têm a mesma capacidade de sofrer, amar e sentir, mas é igualmente importante reconhecer, ao mesmo tempo, a sua diversidade. Admite que poderá formar-se uma ”barreira psicológica” à entrada (ou à permanência) de estrangeiros que tendem a ser não tolerados, sobretudo em situação de crise económica ou civilizacional.

Para Morin, mais pessimista do que Touraine, a forma de pensar das elites dominantes, baseadas no cálculo económico e no lucro, levam-no a descrer do futuro da Europa, vítima de forças disruptivas demasiado fortes: domínio da economia financeira, tendência para regimes postdemocráticos e autoritários.

Mas acredita na multiplicação de oásis de resistência, ligados entre si pela ideia de fraternidade humana e universal.

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