11 junho 2017

A nossa insegurança. Parece que . . . , mas é o petróleo!

O mundo global, da internet, das viagens, da instantaneidade e das novas tecnologias, envolveu-nos num mundo que antes pensávamos conhecer e dominar, mas que nos começou a mostrar que ainda tínhamos muito para descobrir. A própria globalização tornou-se um agente ativo de transformação, levando a que características de territórios, de povos e de pessoas, que até aí considerávamos como estáveis, começassem a mudar.
Os atentados de Londres
Tudo isto introduziu no nosso modo de viver fatores de insegurança que, antes, só eram possíveis, em larga escala, por ocasião de guerras e invasões de guerreiros vindos de outras terras e outros mundos. Hoje, sentimo-nos inseguros na nossa vida do dia a dia, o que não pode deixar de ter consequências sobre a teia de relações que constituem suporte do nosso ser e do nosso estar.
Sussurramos nos nossos encontros que “isto não está a correr bem e qualquer dia . . . “. E porquê? Porque muito dos comportamentos, de responsáveis políticos mundiais deixaram de estar dentro do horizonte de previsibilidade que até aqui possuíamos. Refiro-me, em particular, às trumpalhadas do Sr. que ocupa a Casa Branca e aos atentados terroristas reivindicados pelo Estado Islâmico.
Apesar de eu considerar que as trumpalhadas contêm gérmenes geradores de insegurança, a médio e longo prazo, tão mortíferos como os atentados terroristas (embora não pareçam), é destes que quero começar por falar, sem esquecer que isto anda tudo ligado. A reflexão que aqui quero trazer, vem na sequência dos atentados verificados em Londres no fim de semana passada.
Nos dias seguintes, foi possível ver reproduzidos, nos media, testemunhos de pessoas que concluíam com o desabafo: "Estes cobardes não vão mudar a nossa forma de vida". Já por ocasião de outros atentados voluntarismos com idêntico conteúdo tinham aparecido. Fiquei a pensar!
É verdade que um dos objetivos dos terroristas é destruir a nossa tranquilidade e o nosso modo de vida. A primeira reação, a mais imediata é dizer-lhes que não alcançarão aquilo que pretendem, que continuaremos a portar-nos como dantes, mostrando-lhes, assim, que não nos intimidaremos. Mas será que esta postura tem racionalidade e eficácia? Estou convencido de que não.
O Estado Islâmico
Creio que é bom que compreendamos algumas características do Estado Islâmico, que reivindica a responsabilidade da maioria dos atentados. É-nos transmitida, com frequência, a imagem de que o Estado Islâmico é suportado por jovens fundamentalistas, disponíveis para morrer, com vista a que os estragos produzidos pelas suas mortes destruam o reino e o modo de vida dos infiéis, que somos nós. Só que o Estado Islâmico, promovendo isso, é muito mais que isso.
Importa não esquecer que o mundo muçulmano possui duas principais correntes religiosas, a dos sunitas e a dos xiitas, que se tratam mutuamente, como traidores e infiéis, sendo que os sunitas representam à volta de 90% do total dos muçulmanos. Recordemos ainda que xiitas eram são tradicionalmente considerados como mais fundamentalistas (interpretação literal do Corão). No entanto, também, no âmbito dos sunitas se desenvolveram correntes fundamentalistas, de que é expressão mais significativa a corrente whabbista, nascida e desenvolvida na Arábia Saudita e que, a partir de determinada altura, estabeleceu alianças de governo com a Casa de Saud.
Foi, no seio da corrente whabbista que nasceu o Al-Qaeda e, posteriormente, os outros movimentos terroristas, que deram origem ao Estado Islâmico. Frequentemente se invoca que o Al-Qaeda cresceu com o apoio dos EUA, o que é justificado pelo fato de ter sido por essa via que quiseram eliminar os movimentos demasiado esquerdistas que começavam a aparecer nos países árabes, que poderiam pôr em causa o seu controle sobre o petróleo no Médio Oriente. Só que, aqui, como em muitas outras circunstâncias, os EUA tornaram-se aprendizes de feiticeiros e os que foram criados como aliados, transformaram-se nos seus principais inimigos, não só dos EUA, mas, também, de todo o mundo ocidental.
Assim se compreende porque é que, com frequência, se imputa à Arábia Saudita a responsabilidade do financiamento dos movimentos terroristas, embora a atual crise com a Catar (corte de relações diplomáticas) possa revelar outros contornos. O Catar poderá não estar inocente na questão do financiamento dos terroristas, mas o seu crime principal foi, agora, o de começar a gizar alianças com Irão, postura que os EUA não podem tolerar.
A política dos EUA no Médio Oriente (e das outras potências ocidentais que são dela cúmplices) tem como fundamento o controle das principais reservas mundiais de petróleo. Pouco lhes importa que sejam, precisamente, o Irão e o Iraque, países de maioria xiita, os países com estruturas governamentais e de comportamento mais ocidentalizadas. O seu pecado é o de aspirarem a controlar o seu próprio petróleo. É a esta luz que tem de se compreender o que se passou no Iraque e na Líbia e, agora, também, com o Irão, apesar de todos os passos sensatos anteriormente dados pelo Presidente Obama.
Os mártires e as 72 virgens
Mas voltemos à questão da não mudança do nosso modo de vida. Os “rapazinhos“ que se têm deixado imolar através dos atentados são, apenas carne para canhão de interesses promovidos pelo fundamentalismo sunita, que tem poder e interesses que vão muito para além dos explicitados pelos “rapazinhos”. O papel destes é o de criarem instabilidade nos países ocidentais e, por essa via, permitirem que os fundamentalistas aspirem a controlar os seus recursos.
O comportamento dos terroristas, apesar dos grandes meios mobilizados para os combater, é em grande medida imbatível. A estes terroristas meteu-se-lhes ou meteram-lhes na cabeça que a vitória do Corão só pode ser obtida com a destruição do mundo ocidental, de que os atentados terroristas são uma via privilegiada. Todos os que neles morreram serão recebidos no Céu como mártires e, além disso,  para seu belo prazer, terão à sua espera 72 virgens.
Ora, toda a civilização ocidental foi estruturada e desenvolvida a partir do princípio base de que todo o ser humano tem como objetivo último a preservação da sua vida. O seu comportamento em todos os atos tem isso como objetivo, o que constitui condicionante do seu comportamento. As sociedades ocidentais, tal como as conhecemos, ficam totalmente vulneráveis quando surgem no seu seio indivíduos para quem aquela condicionante não existe. Eles não querem, apenas, fazer atentados; eles querem fazer atentados e, através deles, morrerem, para serem mártires.
Nestas circunstâncias, pensar que “não mudaremos o nosso modo de vida” é um ato de coragem é, antes, um propósito de irresponsabilidade, porque não valoriza adequadamente o comportamento dos que realizam os atentados, que podem vir de todo o lado e para os realizar usar instrumentos, que podem ir dos mais simples aos mais sofisticados.
O petróleo
E tudo porquê?
É o petróleo Senhores! É o petróleo.
 
E, nesta teia de interesses, onde anda o respeito pela dignidade da pessoa humana?

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