05 dezembro 2011

Abençoada lucidez

Helmut Schmidt, ex-chanceler da Alemanha, com a sabedoria dos seus 92 anos, teve a coragem de denunciar publicamente, no passado domingo e no seio do SPD, o risco de isolamento do seu país, quando são evidentes os sinais de uma tomada de poder alemão sobre os destinos da Europa.

Para Helmut Schmidt, a União Europeia é necessária, bem como a continuidade do Euro “ muito mais estável do que o Dólar americano” e também “ mais estável do que o marco alemão nos seus últimos 10 anos”.

Contudo, reconhece que é insuficiente a consciência dos alemães de que a sua economia está integrada no mercado comum europeu e, em simultâneo, globalizada, e desta forma dependente da economia mundial, onde os seus excedentes só têm paralelo nos da China. E todos os seus excedentes são deficits de outros.

Sublinha que o poderio económico da Alemanha tem suscitado o receio, por parte de uma crescente maioria dos seus vizinhos, de que a periferia fique dominada por um centro demasiado poderoso. No limite, a Alemanha ficaria isolada na U. E. ou na zona Euro, o que seria altamente perigoso.

Acresce que a Alemanha tem motivos para sentir gratidão para com outros países, nomeadamente os seus vizinhos da Europa, que lhe prestaram ajuda sem a qual a reconstrução no após guerra não teria sido possível. Mas a classe política não parece ter perfeita consciência do imperativo da solidariedade europeia, em que uns são necessariamente credores e outros devedores.

Assim, a teimosia da Alemanha em preconizar austeridade a todo o custo para combater a crise é fortemente criticada por Helmut Schmidt que preconiza, como objectivos a prosseguir desde já, mais democracia na U. E., menos poder à finança (os dealers, os gestores financeiros e as agências de rating continuam a operar da mesma forma) e uma politica eficaz de defesa da moeda comum.

Entre as medidas apresentadas destacamos: a regulação do mercado financeiro (cross- regulation), a separação dos bancos comerciais dos de investimento e dos “shadow banks”, proibição do “ short selling” dos títulos bem como do comércio de derivados não sujeito a controle.

Para assegurar o futuro imediato do Euro há uma série de passos a percorrer: fundos de resgate, controlo de dívidas, politica económica e fiscal comum, politicas de despesa e sociais bem como reformas do mundo laboral.

Mas uma dívida comum será inevitável. O que não pode é prolongar-se através de Europa politicas extremamente deflacionistas.

Não se duvida que este discurso de Helmut Schmidt venha a ter um grande impacto entre os apoiantes do SPD e dos alemães em geral, provavelmente mal informados acerca do que está em causa e das consequências das ideias defendidas por Ângela Merkel.

Bom seria que também entre nós ele fosse lido e comentado, quebrando o asfixiante discurso que todos os dias nos é oferecido.

Podemos esperar que os responsáveis nas instâncias da U. E. ganhem alguma força para as reformas que se impõem, dando um horizonte de esperança aos que atravessam situações bem dramáticas?

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