A
recente publicação do relatório anual da OCDE Education at a
Glance tem vindo a provocar uma enorme onda de indignação por parte dos
professores portugueses, ali retratados como auferindo níveis remuneratórios estranhamente
elevados.
A
consulta das principais redes sociais é disso testemunha, multiplicando-se as
intervenções críticas e até a publicação de desmentidos factuais com base em
cálculos que muitos professores têm vindo a fazer e a dar conhecimento. Aparentemente,
os vícios de informação terão a ver, entre outros aspectos, com a não
consideração dos efeitos idade e antiguidade sobre a progressão salarial e
ainda com incorrecções nas equivalências da paridade dos poderes de compra. Pela
nossa parte, não dominamos suficientemente as metodologias que servem de base
aos cálculos da OCDE para nos podermos abalançar a uma desconstrução rigorosa
daqueles dados estatísticos. A nossa preocupação é aqui outra.
Consultadas
as notas metodológicas daquela publicação no que diz respeito a Portugal,
deparamo-nos com uma referência a fontes bibliográficas que apenas remete para
um Despacho sobre matrículas e constituição de turmas (Despacho nº 5048-B/2013)
e para outras publicações e fontes idênticas e afins da própria OCDE. O passo
seguinte teria de ser, portanto, o de saber qual o organismo público português
interlocutor daquela Organização para estes domínios. Na página oficial da Direcção Geral de Estatísticas da
Educação e Ciência (DGEEC) pode ler-se que este organismo “assume a
representação nacional” nos Comité de Políticas Educativas (EDPC), Grupo de
Trabalho sobre Indicadores dos Sistemas Educativos (INES) e, ainda, na Rede
para a recolha e disponibilização de informação sobre (…) estruturas, políticas
e práticas educativas (NESLI), entre outras instâncias, todas da OCDE. Parece
ser daqui, portanto, que sai a informação que serve de base às estatísticas
que, relativamente a Portugal, a OCDE trabalha e publica em estudos como o que
estamos a referir.
De
qualquer forma, o Ministério da Educação é o responsável último pelas
informações prestadas. Se as mesmas foram tratadas erradamente pelos serviços
de estatística da OCDE, o mínimo que se espera é uma exigência de correcção por
parte daquele Ministério ou dos serviços competentes sob sua tutela. Na
ausência de qualquer explicação pública a este respeito, teremos de concluir
que a OCDE reproduziu e tratou fielmente a informação que lhe chegou.
E os
sindicatos dos professores e suas federações? Não terão também que se
pronunciar a este respeito? Tanto mais que se encontram de momento fortemente
envolvidos em processos reivindicativos com vista a ultrapassar injustiças
várias – e também remuneratórias – de que os professores portugueses têm sido
alvo.
A
opinião pública exige e merece que um e os outros se pronunciem a este
respeito! Não o fazendo, é legítimo que nos interroguemos sobre as verdadeiras
razões por detrás destes silêncios.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários estão sujeitos a moderação.