Crescer sem distribuir serve de muito pouco. Assim conclui, muito justamente, Vicente Ferreira, estudante do curso de economia do ISEG, num post hoje publicado no blogue Ladrões de bicicletas.
O texto faz uma análise, lúcida e bem documentada, sobre as consequências das chamadas políticas de flexibilização do mercado de trabalho, do ponto de vista da sua incidência sobre os níveis de salários, a precarização dos empregos, a desigualdade crescente.
A crise financeira abriu caminho à aceitação das teses neoliberais da desregulação das relações laborais e da irrelevância da negociação colectiva e do poder negocial dos sindicatos, com consequências, ainda hoje, visíveis na persistente contenção de salários, a par da crescente desigualdade na repartição funcional do rendimento. Tudo isto com a aparente justificação de esperados efeitos benéficos: redução do desemprego, atracção de investimento estrangeiro, crescimento económico, ( ...)
O texto de Vicente Ferreira evidencia que a retoma do crescimento económico em contexto de “flexibilização” das relações laborais, não supera a indesejada precariedade nem viabiliza melhores níveis de remuneração. Assim sendo, acrescento eu, também não conduz, por si só, a desenvolvimento sustentável. Estas realidades constituem matéria que não deve ser descurada pela Política macroeconómica, como parece óbvio, atentas as repercussões na qualidade de vida das pessoas e no nível de coesão social e de satisfação das sociedades.
Questão mais subtil é a necessidade de repensar o modelo de empresa, nos seus fundamentos e, consequentemente, na sua organização e princípios de gestão. Curiosamente – ou talvez não – esta tem ficado arredada do debate político acerca das reformas estruturais, que continuam apenas direccionadas para o trabalho e as relações laborais. Por que será?
A meu ver, está na hora de desencadear a reflexão e o debate político acerca do modelo de empresa, sem o que os salários continuarão a ser considerados custos (a comprimir), os investidores a merecer beneficiar de lucros (a maximizar), os gestores a ter por garantidas remunerações salariais fora dos padrões dos níveis salariais das respectivas empresas, acumuláveis com prémios definidos na proporção dos lucros.
Agradeço ao Vicente Ferreira este e os seus anteriores posts. Sendo o Autor estudante do curso de economia do ISEG, dá-me esperança de que uma nova geração de economistas será capaz de repensar a ciência económica, na perspectiva de uma sociedade mais justa.
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