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19 julho 2018

Está na hora de repensar o modelo de “empresa”

Crescer sem distribuir serve de muito pouco. Assim conclui, muito justamente, Vicente Ferreira, estudante do curso de economia do ISEG, num post hoje publicado no blogue Ladrões de bicicletas.

O texto faz uma análise, lúcida e bem documentada, sobre as consequências das chamadas políticas de flexibilização do mercado de trabalho, do ponto de vista da sua incidência sobre os níveis de salários, a precarização dos empregos, a desigualdade crescente.

A crise financeira abriu caminho à aceitação das teses neoliberais da desregulação das relações laborais e da irrelevância da negociação colectiva e do poder negocial dos sindicatos, com consequências, ainda hoje, visíveis na persistente contenção de salários, a par da crescente desigualdade na repartição funcional do rendimento. Tudo isto com a aparente justificação de esperados efeitos benéficos: redução do desemprego, atracção de investimento estrangeiro, crescimento económico, ( ...)

O texto de Vicente Ferreira evidencia que a retoma do crescimento económico em contexto de “flexibilização” das relações laborais, não supera a indesejada precariedade nem viabiliza melhores níveis de remuneração. Assim sendo, acrescento eu, também não conduz, por si só, a desenvolvimento sustentável. Estas realidades constituem matéria que não deve ser descurada pela Política macroeconómica, como parece óbvio, atentas as repercussões na qualidade de vida das pessoas e no nível de coesão social e de satisfação das sociedades.

Questão mais subtil é a necessidade de repensar o modelo de empresa, nos seus fundamentos e, consequentemente, na sua organização e princípios de gestão. Curiosamente – ou talvez não – esta tem ficado arredada do debate político acerca das reformas estruturais, que continuam apenas direccionadas para o trabalho e as relações laborais. Por que será? 

A meu ver, está na hora de desencadear a reflexão e o debate político acerca do modelo de empresa, sem o que os salários continuarão a ser considerados custos (a comprimir), os investidores a merecer beneficiar de lucros (a maximizar), os gestores a ter por garantidas remunerações salariais fora dos padrões dos níveis salariais das respectivas empresas, acumuláveis com prémios definidos na proporção dos lucros.

Agradeço ao Vicente Ferreira este e os seus anteriores posts. Sendo o Autor estudante do curso de economia do ISEG, dá-me esperança de que uma nova geração de economistas será capaz de repensar a ciência económica, na perspectiva de uma sociedade mais justa.

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