Uma organização governamental sueca (Swedish
International Development Cooperation Agency – SIDA) dedicada à luta contra a
pobreza no mundo, atenta às crescentes manifestações de instabilidade social
que vêm alastrando, convidou um grupo de treze economistas, onde se incluíam
quatro ex-economistas principais do Banco Mundial, um deles prémio Nobel, para
aprofundar as razões fundamentais daqueles fenómenos.
A conclusão genérica foi a de que algumas das
ideias que têm estado na base da economia do desenvolvimento, podem ter contribuído
para parte dos problemas com que o mundo actual está confrontado.
Em particular, “é agora evidente que zelar apenas pelo equilíbrio dos orçamentos
nacionais e pelo controlo da inflação, ao mesmo tempo deixando tudo o resto ao
mercado, não gera automaticamente crescimento sustentado e inclusivo”[1].
A partir desta ideia, os autores do Manifesto[2] identificaram oito grandes
Princípios que deveriam guiar uma política de desenvolvimento.
De facto, já não pode ser ignorada a
incapacidade do modelo imposto nas últimas décadas para gerar um crescimento
sustentado inclusivo: a liberalização desregulada e a confiança cega nas forças
de mercado, sem qualquer fundamento científico, são responsáveis por muitos dos
problemas atribuídos à globalização.
A definição das políticas macroeconómicas,
sem deixar de lado os modelos matemáticos de que se servem e, por vezes,
abusam, deve passar a incluir outras metodologias e devem tomar como base “uma visão clara dos objectivos da política
de desenvolvimento, aprendendo com os êxitos e os erros do passado e com o
corpo da teoria económica e da análise estatística acumulada num longo período
de tempo”.
É esta humildade que se impõem para uma
verdadeira Nova Economia, pelo que os oito Princípios constantes deste
Manifesto (que não se confundem com uma listagem de medidas), bem poderiam
constituir um ponto de partida para rever o que está a ser ensinado aos futuros
economistas e, obviamente, uma fonte de inspiração para os responsáveis
políticos a todos os níveis.
Ressaltamos alguns pontos principais que, de
forma alguma, esgotam a riqueza de pensamento contida no Manifesto.
O primeiro dos oito Princípios é o de que o
crescimento do PIB deve ser olhado como um meio em ordem a um fim e não como um
fim em si, pois o que importa é que ele fornece os recursos para “as várias dimensões do bem-estar humano:
emprego, consumo sustentável, habitação, saúde, educação e segurança”.
O segundo Princípio desenvolve a ideia da
necessidade de promover activamente o Desenvolvimento Inclusivo,” a única forma de desenvolvimento socialmente
e economicamente sustentável”, o que implica deixar de lado a ilusão do
efeito “trickle down” pelo qual todos beneficiam igualmente do progresso
económico. Não basta olhar apenas a pobreza mais severa, também “a crescente desigualdade de riqueza e
desenvolvimento nas últimas décadas, a par da desigualdade nas oportunidades de
acesso a serviços básicos como a saúde e a educação, são eticamente
indefensáveis, minam a coesão social e alimentam a espiral de captura das
políticas por parte das elites, o que ainda mais aprofunda as desigualdades”.
O terceiro Princípio refere a sustentabilidade
ambiental como sendo uma exigência e não uma opção, salientando, entre outros
pontos, a questão, tão pertinente no mundo actual, da emigração por degradação
ambiental, a qual “pode levar a
insegurança e conflitos que minam o desenvolvimento”. Em geral as soluções
dos problemas ambientais não podem ser deixadas ao mercado, ante se impõe a
intervenção do Estado e a cooperação internacional.
O equilíbrio necessário entre os diferentes
actores – Mercado, Estado e Comunidades – constitui o quarto Princípio, onde se
aponta, nomeadamente, a responsabilidade da desregulação dos mercados nas
crises financeiras e nos níveis insustentáveis de desigualdade.
A forma como deve ser promovida a
estabilidade macroeconómica é analisada no quinto Princípio, merecendo aí
destaque, a exigência de flexibilidade política, em particular no tocante aos
equilíbrios orçamental e externo. O papel fundamental do estímulo orçamental e
do investimento público é sublinhado não só como meio para resolver armadilhas
de estagnação como em domínios de fraco interesse por parte do investimento
privado, por exemplo, as infraestruturas ou a tecnologia verde.
O rápido avanço da tecnologia é matéria
constante do sexto Princípio. Consideram os autores que, ao contrário do que é
mais usual, não são apenas relevantes os efeitos directos sobre o trabalho,
cujo mercado se tornou global pelos avanços tecnológicos: a perspectiva deve
ser mais alargada para ter em conta a maior apropriação pelo capital da riqueza
que as novas tecnologias permitem.
O sétimo Princípio com o título “As normas
sociais e as atitudes mentais são importantes”, põe em causa a tradicional
desvalorização da sua articulação com a economia: “os nossos valores e a nossa cultura não são apenas importantes para nós
próprios, têm também impacto sobre o desempenho económico”.
O oitavo Princípio faz apelo à
responsabilidade da comunidade internacional, questão tanto mais importante
quanto é certo que “as forças globais
cada vez mais enquadram as opções políticas de desenvolvimento que são
disponibilizadas aos governos nacionais”.
Não faltam os exemplos, no mundo actual,
desde as políticas monetárias que afectam os fluxos de capitais, às restrições
sobre migrações, políticas comerciais e regulações sobre paraísos fiscais
As propostas que aqui nos são deixadas por um
grupo de economistas que, para além das suas competências científicas têm o
conhecimento aprofundado do que é a economia e como ela influencia a vida das
pessoas e os equilíbrios mundiais, não podiam ser mais oportunas: é tempo de
abandonar soluções parcelares e descoordenadas para os problemas e a
insistência em modelos inoperantes e injustos.
Só assim, apesar de todas as incertezas que
marcam o presente, podemos esperar ultrapassar as dificuldades que se avolumam.
It is good that Isabel Roque Oliveira has alerted us to the eight guiding principles for the future of economics established by thirteen eminent economists at a brainstorming session in Stockholm.
ResponderEliminarTo reinforce their conclusion, I would like to highlight the critique prepared by Paul Romer, recently appointed Chief Economist of the World Bank, “The Trouble with Macroeconomics”. In it, he writes that for three decades, macroeconomics has gone backwards, losing knowledge instead of gaining it.
In its December issue, the Economist had an excellent article on how the way economics is taught depends on what you think economics is for: “Exams and expectations”. It traces the history of the Cambridge Economics Department, founded by Alfred Marshall, who saw the economy as a dynamic system, with economics as “a study of mankind in the ordinary business of life.” Both Keynes and Pigou, students of Marshall, believed that individually sensible decisions might be disastrous for society, so they developed toolkits for policy advisers to government. Students at that time were expected to combine economic principles with a strong grasp of current affairs.
In time with the shift to original empirical analysis and applied economics, focusing more on technicalities and models, specialization has encouraged narrow thinking. A student today was quoted as saying that she could have passed all the questions she faced in her first year without reading the news. The article ends by stating that Marshall’s original dream of economists seeking not merely to apply their ideas in a worldly way, but to produce both better ideas and, in the end, a better world, has been lost.
Perhaps to return to Marshall’s original vision, we need to reflect on the Seventh Principle highlighted in the Stockholm statement: “Social norms and mindsets matter.” What are they? I return to the Economist article stating that the way economics is taught depends on what you think economics is for, and to this I will add that the way economists are formed determine the way economics is practiced and how society is served.
Importantly linked to this is the role of finance in creating wealth. When massive amounts of money is created out of thin air, and the funds serve to enrich financial engineers and investors in paper assets, rather than to invest in a sustainable future, with the creation of jobs and wealth for the common citizen and the protection of nature in mind, society cannot be served.