De acordo com
a Caritas in Veritate (65) “é
preciso que as finanças enquanto tais - com estruturas e
modalidades de funcionamento necessariamente renovadas, depois da sua má
utilização que prejudicou a economia real - voltem a ser um instrumento
que tenha em vista a melhor produção de riqueza e o desenvolvimento.
Enquanto instrumentos, a economia e as finanças em toda a respetiva extensão, e
não apenas em alguns dos seus sectores, devem ser utilizadas de modo ético, a
fim de criar as condições adequadas para o desenvolvimento do homem e dos
povos”.
Nessa espiral
de empobrecimento está envolvida a destruição do Estado Social (a Educação, a Saúde,
a Solidariedade, a Justiça), enquanto instrumento de redução de desequilíbrios
na repartição dos rendimentos. Ainda, seguindo o magistério papal “Razões
de sabedoria e prudência sugerem que não se proclame depressa demais o fim do
Estado; relativamente à solução da crise atual, a sua função parece destinada a
crescer, readquirindo muitas das suas competências (Caritas in Veritate, 41).
A Reforma do Estado e adoção de mecanismos de
funcionamento eficiente, certamente que são objetivos a prosseguir em todas as
circunstâncias, mas considerando que os
cidadãos, constituem, sempre, um ponto de partida e não um ponto de
chegada. A busca da justiça e do bem
comum têm que ser os pilares da construção da nova Sociedade, do novo Estado.
Mais uma vez,
como refere a Caritas in Veritate (6)
“ Caridade e Verdade é um princípio à volta do qual gira a doutrina social
da Igreja, princípio que ganha forma operativa em critérios orientadores da
ação moral”. Lembram-se dois em particular, que são “requeridos, especialmente,
pelo compromisso em prol do desenvolvimento, numa sociedade em vias de
globalização: a justiça e o bem comum”.
Por muito
surpreendente que para alguns possa parecer, haverá que combater o pressuposto
correntemente assumido de que as opções de repartição só podem ser determinadas
depois de se ter produzido: “primeiro há que produzir e só depois é que podem
ser encaradas as questões da repartição”, é o que muito se houve dizer. É ainda a Caritas in
Veritate (37) que afirma: “os cânones da justiça devem ser
respeitados desde o início enquanto se desenrola o processo económico, e não
depois ou marginalmente”.
Não se pode
distribuir o que se não tem mas, para se ter, há que tomar opções de partida
que sejam respeitadoras da pessoa humana e da sua dignidade; há que confrontar
e optar entre objetivos de sociedade e os objetivos do capital financeiro. Convém
não esquecer que as opções de repartição existem mesmo quando nelas se não
fala; elas estão escondidas por trás do pano de cenário constituído pela
repartição inicial da riqueza e dos patrimónios, que determina qual a
repartição de rendimentos que, no fim do processo, pode e deve ser feita.
A recuperação
da crise é um campo de seara imensa, mas desde já sabemos que existem
os princípios orientadores para que ela seja bem cuidada, ou sejam: o abandono de uma
ideologia liberalizante, como fundamento da vida em sociedade; a adoção do
requisito da centralidade das pessoas como ponto de partida para a construção
de um futuro melhor; a participação de todos na construção do futuro que é,
também, de todos (princípios da subsidiariedade e da solidariedade).
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários estão sujeitos a moderação.