14 janeiro 2022

Uma metodologia mais abrangente para analisar a Educação

 Quando em 3 de Novembro de 2021 procedemos aqui a uma breve análise dos efeitos da COVID-19 sobre a educação em Portugal, baseámo-nos na base de dados PORDATA para os indicadores então apresentados. Essa informação, embora correcta, só por si não adiantava muito sobre a situação dos jovens portugueses perante a educação e o que terão sofrido com a pandemia, além de outros aspectos.

Com efeito, muitos autores chamam a atenção para o facto de a pandemia ter vindo a agravar a multiplicidade de interacções entre os aspectos sociais, económicos e ambientais, ampliando as desigualdades existentes à partida[1]. Defende-se, então, a necessidade de uma abordagem baseada nos conceitos mais amplos de bem-estar e sustentabilidade, e, portanto, de âmbito multidimensional. Aqui, reteremos apenas alguns indicadores relativos à educação.

O relatório da OCDE Education at a Glance 2021 reflecte já em parte aquela multidimensionalidade, mantendo embora a estrutura tradicional, mas enriquecida com mais dimensões de análise, como a da população imigrada. Permite-nos, então, uma visão mais completa da situação perante a educação dos jovens residentes em Portugal.

Assim, e por exemplo, constatamos que a percentagem de jovens dos 15 aos 29 anos residentes em Portugal que não estão em educação ou formação nem empregados (NEET), aumentou  consideravelmente com a pandemia, cerca de 2 pontos percentuais entre 2019 e 2021. Por  outro lado, o mesmo relatório também nos informa que cerca de 45% destes NEET são inactivos, não desenvolvendo qualquer iniciativa para procurar activamente emprego ou ocupação.

Por outro lado, a caracterização da população imigrada perante a escolaridade também pode começar agora a fazer-se. Sublinhando-se a natureza ainda exploratória da informação desta natureza, revela-nos que a percentagem de NEET entre os jovens imigrantes é idêntica à dos jovens portugueses quando os primeiros chegam ao nosso País antes dos 15 anos. A situação escolar dos jovens imigrantes face aos nacionais vai-se deteriorando à medida que aumenta a idade com que chegam ao nosso País.

Também é possível constatar que os jovens imigrados não pesam mais do que os portugueses nos níveis mais baixos de escolaridade, designadamente inferiores ao 12º ano.

Estes exemplos são só por si suficientes para nos levar a pensar no vasto campo de análises que assim se abre com esta metodologia de abordagem mais rica e exigente. Poderemos, então, estar a criar condições para obter respostas a questões como as seguintes:

 

- quais os reais efeitos da pandemia sobre a situação escolar e de emprego dos jovens residentes em Portugal?

 

- como comparam os jovens imigrados com os nacionais do ponto de vista educativo?

 

- até que ponto “pesam”, de facto,  os imigrantes no sistema educativo português?


Graça Leão Fernandes

Margarida Chagas Lopes



[1] OECD (2021). Covid - 19 and Well-being: Life in the Pandemic. https://www.oecd.org/wise/covid-19-and-well-being-1e1ecb53-en.htm 

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