26 agosto 2020

Ainda a questão dos aeroportos…

 

           


 

1.    Num “post” aqui publicado a 15/11/18, enumerámos um conjunto de argumentos defendendo a utilização do aeroporto de Beja e a não construção de um novo aeroporto no Montijo.

Os argumentos então apresentados consistiam fundamentalmente do seguinte:

- a inevitabilidade da transição de um modelo de desenvolvimento não sustentável para uma economia pós-carbono;

- o dever de salvaguardar uma zona de protecção especial de aves selvagens, de importância internacional

- a necessidade e o dever de defender a saúde e a qualidade de vida das populações de Lisboa e dos concelhos limítrofes situados a sul;

- as características do Aeroporto Internacional de Beja, que, segundo afirma a própria ANA – Aeroportos de Portugal (actualmente propriedade da multinacional francesa VINCI), “este terminal de passageiros, de carga e de manutenção de aeronaves está preparado para receber todo o tipo de operações com um elevado nível de eficiência”, constituindo portanto um investimento de qualidade altamente subaproveitado, não potenciando assim a região em que se encontra;

- a poupança que representaria o investimento numa parte da linha ferroviária do Alentejo (elegível para fundos comunitários) por oposição aos custos estimados para a construção de um aeroporto no Montijo e novos acessos a Lisboa (região já não elegível).

A estes argumentos poderíamos ter acrescentado o previsível aumento do nível das águas do mar e o seu reflexo no estuário do Tejo ou ainda a falta de um debate racional onde se fizessem ouvir os peritos nas várias áreas concernentes, debate aliás próprio de um estado de direito.

2.    Argumentos que, quanto a nós, permanecem válidos, alguns deles ainda com maior acuidade, dada a recente evolução da realidade e a situação que vivemos actualmente.

Com efeito, todos concordam que vivemos tempos de incerteza quanto ao futuro, mas parece relativamente previsível que o tráfego aéreo vai ter de abrandar, os combustíveis da navegação aérea vão ter de deixar de ser subsidiados (directa ou indirectamente) e os voos vão ter de encarecer e passar mais por um critério de absoluta necessidade. O turismo do futuro vai ter de ser mais amigo do ambiente e utilizar mais os meios de transporte terrestres.

3.    Mas, mesmo que a evolução do tráfego aéreo não venha a ser a que acabamos de referir, é o próprio Conselho Superior de Obras Públicas que chama a atenção para que, no que respeita aos investimentos previstos na área dos transportes, se verifica “um certo desequilíbrio espacial em favor das duas áreas metropolitanas, em especial da Área Metropolitana de Lisboa, em detrimento do restante território continental, comprometendo assim o objectivo de coesão nacional”* e que “as obras no aeroporto de Lisboa e o novo aeroporto do Montijo não são uma solução no longo prazo”*. Se as previsões antes da pandemia se viessem a verificar, a capacidade do novo aeroporto esgotar-se-ia dentro de 12 a 15 anos e o de Faro (que Beja também poderia complementar) ainda antes.

4.    Numa altura em que qualquer governo deve ter como dever e prioridade absoluta garantir que as respectivas populações possam viver (e não apenas sobreviver!) dentro dos limites dum planeta finito, ou seja, sem destruir os ecossistemas que suportam a vida na Terra, nossa casa comum, o governo português parece assim empenhado em hipotecar ainda mais o futuro do país. Lucidez e bom-senso precisam-se!

 

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*cf. Expresso de 25/07/2020, pág. 10

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