09 novembro 2014

Encontro Mundial dos Movimentos Populares
- O discurso de encerramento do Papa Francisco

Promovido pela Comissão Pontifícia Justiça e Paz em colaboração com a Academia Pontifícia das Ciências Sociais e dirigentes de vários Movimentos Populares de todo o Mundo, teve lugar, em Roma, no final do passado mês de Outubro (27- 29), um Encontro Mundial de Movimentos Populares, o que, só por si, é um evento que merece a devida ponderação, tanto pela sociedade civil como por parte das comunidades eclesiais.
 
No final do encontro, o Papa Francisco encorajou os participantes a permanecerem firmes na sua luta contra as injustiças e a manterem uma atitude lúcida sobre as respectivas causas, nomeadamente recomendou que não se deixassem aprisionar por promessas ilusórias dos planos assistenciais que vão no sentido de anestesiar ou domesticar os pobres. Os pobres querem ser protagonistas, disse.
 
E acrescentou que, se não há que descrer da palavra solidariedade, há que tomá-la no seu autêntico sentido: a verdadeira solidariedade consiste em enfrentar os efeitos destrutivos do Império do dinheiro com o que tal comporta de deslocalizações, emigração dolorosa, tráfico de pessoas, droga, guerra, violência… A luta contra as causas estruturais da pobreza nas suas diversas manifestações, através de uma solidariedade efectiva, torna-se num modo de fazer história em que os pobres são seus protagonistas.
 
O Encontro teve por tema: Terra, Tecto, Trabalho.
 
O Papa Francisco lembrou que se trata de direitos sagrados que, embora muitas vezes silenciados, constam, todavia, da tradicional doutrina social da Igreja.
 
A terra

Quando a especulação financeira condiciona o preço dos alimentos, tratando-os como uma qualquer mercadoria, quando milhões de pessoas sofrem e morrem de fome e quando, por outro lado, se estragam toneladas de alimentos, estamos perante um verdadeiro escândalo.
(…) A reforma agrária é uma necessidade política e uma obrigação moral.

 
O tecto
 
Vivemos em cidades que constroem torres, centros comerciais, avenidas, … mas abandonam uma parte de si nas margens, nas periferias. (…) Continuemos a trabalhar para que todas as famílias tenham uma casa e que todos os bairros tenham uma infraestrutura adequada (esgoto, luz, gaz, alcatroamento, escolas, hospitais ou centros de primeiros socorros, clube desportivo, e todas as coisas que criam vínculos …
 
O trabalho
 
Não existe pior pobreza material do que aquela que não permite ganhar o pão e priva da dignidade do trabalho.
 
O Papa denuncia, com veemência, o desemprego, a precariedade, as baixas remunerações, a insegurança dos vínculos laborais, situações que afirma serem o resultado de uma opção social, por um sistema económico que põe o lucro acima do Homem, o benefício económico acima da Humanidade. Trata-se de uma cultura do descartável que considera o próprio ser humano como um bem de consumo que se pode usar e deitar fora.
 
A última parte do discurso aborda a questão da ecologia e a questão da paz, chamando a atenção para a necessidade de promover uma cultura e um consequente modo de agir que promovam uma atitude respeitadora e cuidadora da natureza e dos seus equilíbrios, como condições de uma paz sustentável.
 
Um sistema económico centrado no deus dinheiro necessita também de saquear a natureza para sustentar o ritmo frenético do consumo que lhe é inerente.
 
O discurso do Papa Francisco pode ser consultado na íntegra aqui.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os comentários estão sujeitos a moderação.