19 junho 2013

Confronto entre verbos

Uma notícia destacada no jornal PÚBLICO de hoje diz que os Centros de Emprego têm ordem para restringir o acesso dos desempregados de longa duração aos cursos de formação profissional e que a prioridade deve ser dada aos desempregados que ainda têm subsídio ou a beneficiários do rendimento social de inserção, pelo que haverá apenas 20% das vagas da formação para os desempregados sem subsídio.

Isto levou-me logo a pensar em confronto de verbos que, no caso, é coisa mais séria que conflitos verbais. Ou seja, no confronto entre o verbo poupar e o verbo proteger, parecendo (para responsáveis políticos) ser mais importante o poupar que o proteger; no confronto entre os verbos descartar e incluir, sendo este último…descartável, como consequência da decisão dos mesmos responsáveis.

O jornal fala de uma poupança ou encaixe de 120 milhões, o que não chega aos 7% das despesas com subsídios de desemprego (que em 2011, segundo dados do PORDATA, foram de 1821200000). E isto numa altura em que cerca de 550000 dos desempregados não têm qualquer apoio! Trata-se, na sua grande maioria, de desempregados de longa duração. 

Até parece que o pensamento de tais responsáveis é do género: quem já está fora dos subsídios porque a longa duração do desemprego foi…longa demais, é alguém que já não interessa, provavelmente porque ter-se-á habituado a estar de fora, deve ser um excluído acostumado. E continua a falar-se da acção de “estabilizadores automáticos”! Onde é que está, afinal, o automatismo? Ainda por cima, as despesas com o Estado Social (segurança social, saúde, educação) em Portugal nem se afastam muito da média da UE (em 2011, segundo dados do Eurostat, em Portugal representavam 63,4% das despesas do Estado e na UE 65,7%).

Não venham responsáveis pela política governamental actual falar em inclusão social, em luta contra a pobreza, políticas activas de emprego. Que credibilidade têm?

Talvez ingenuamente faço três perguntas:

1) Trata-se apenas de uma questão de Orçamento, para atingir o sacrossanto défice?

2) Ou a Segurança Social, e nomeadamente o apoio aos desempregados, é apenas uma sobra que se aproveita…quando há?

3) Ou proteger solidariamente (Segurança Social) é um objectivo de sociedade para o qual a economia se organiza?

2 comentários:

  1. Como se não bastasse a situação escandalosa do elevadíssimo número de desempregados (de curta e de longa duração) sem acesso a prestações sociais, vem agora um critério de prioridades “ inovador” discriminar aqueles que as recebem, prejudicando-os no tocante à formação profissional.
    Como muito bem escreve o Cláudio, talvez porque já estão habituados a estar de fora como “excluidos acostumados”.
    O acesso à formação profissional tem que ser proporcionado a todas as pessoas que nela confiam para encontrarem um futuro de trabalho digno.
    Ou será que não é para levar a sério a preocupação com o flagelo do desemprego que, mais recentemente, os governantes apregoam?

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  2. No meu comentário anterior detectei uma gralha. O texto correcto é o seguinte:

    Como se não bastasse a situação escandalosa do elevadíssimo número de desempregados (de curta e de longa duração) sem acesso a prestações sociais, vem agora um critério de prioridades “ inovador” discriminar aqueles que as não recebem, prejudicando-os no tocante à formação profissional.
    Como muito bem escreve o Cláudio, talvez porque já estão habituados a estar de fora como “excluidos acostumados”.
    O acesso à formação profissional tem que ser proporcionado a todas as pessoas que nela confiam para encontrarem um futuro de trabalho digno.
    Ou será que não é para levar a sério a preocupação com o flagelo do desemprego que, mais recentemente, os governantes apregoam?

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