24 junho 2011

Para que serve a «Doutrina Social da Igreja»?

Disse, em post anterior, que é necessário e urgente definir e praticar um pensamento alternativo do paradigma liberal hoje dominante na política económica dos estados europeus.
Poderá perguntar-se: nessa pesquisa, que papel atribuir à chamada Doutrina Social da Igreja?

1-Uma excelente síntese actualizada dessa doutrina encontra-se na Encíclica de Bento XVI Caritas in Veritate publicada em 2009. Todos os grandes temas da actual conjuntura histórica, desde por exemplo, a globalização, e a degradação do ambiente, até à necessidade de vitalização sindical e a defesa do «trabalho decente», encontram-se aí abordados e são fornecidas pistas preciosas para o comportamento individual e colectivo. Poderemos então afirmar que aí se encontrará o desejado paradigma alternativo da política económica liberal?

2-Como ensinava o já falecido Professor Adérito Sedas Nunes, de quem fui aluno, assistente e depois, herdeiro da cadeira de História dos Factos e Doutrinas Económicas no então ISCEF, e hoje ISEG,da Universidade Técnica de Lisboa, a Doutrina situa-se entre a Filosofia e a Política, mas não constitui uma espécie de receituário dos estados na sua intervenção social.
Assim, na encíclica acima referida, podemos encontrar notas esclarecedoras dum conceito profundo de «desenvolvimento humano» que vai muito além das noções correntes em diversas publicações e relatórios da ONU, que nos permitem por exemplo afirmar que Portugal está entre os «últimos dos primeiros» na classificação mundial segundo o IDH (Ìndice de Desenvolvimento Humano). Mas nada nos elucidam sobre as razões do nosso atraso no contexto europeu.

3- Nesta questão complexa, defrontamos ainda outra grande dificuldade:e como poderemos situar hoje a Igreja Católica realmente existente e não apenas a sua expressão pelas vozes mais autorizadas no seio da respectiva Hierarquia, no panorama inter-cultural em contexto de acelerada mudança em todos os aspectos da existência social dos seres humanos? Tem sido convincente e atempada a adaptação do discurso metafísico e ético do cristianismo a essa mudança?

4- Não tenho a pretensão de ter a chave do cofre onde se guardam as respostas a tão perturbadoras questões.
Apenas creio que tal «cofre» não existe, ou se existe está talvez , de momento, vasio.
Para terminar, cito dois grandes pensadores católicos:
«O homem faz-se, fazendo-se» (Emmanuel Mounier)
«O homem é o terceiro infinito, o infinito da complexidade» (Teilhard de Chardin)

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