A conjugação do respeito pela soberania dos Estados
com o dever de acolhimento de refugiados e imigrantes coloca desafios aos
decisores públicos, nem sempre conscientes da obrigação de assegurar que prevaleça o direito à subsistência das pessoas e suas
famílias.
Felizmente, Portugal tem optado, ao longo do
tempo, por aprovar leis de imigração e políticas de integração equilibradas,
ainda que a sua aplicação nem sempre atinja o desejável grau de exigência: a
multiplicidade de Ministérios e entidades envolvidas e a falta de avaliação e
divulgação de boas práticas são alguns dos aspectos críticos a rever.
É exemplo positivo a revisão da lei, em 2017,
que tornou mais fácil a legalização ou a regularização da condição de imigrantes,
e alterou os critérios de expulsão para atender à situação de pessoas com
filhos menores a seu cargo.
O que é uma certeza é que as questões
levantadas pelos movimentos migratórios- da mesma forma que a protecção do
ambiente- são muito complexas e de natureza global, jogam com a vida de milhões
de pessoas em todo o mundo, pelo que se torna indispensável negociar consensos
alargados para instrumentos de intervenção eficazes.
Com efeito, actualmente, dois terços dos
países do mundo são simultaneamente países de origem e de destino das migrações
e o número de migrantes ronda 260 milhões de pessoas (não incluindo as
deslocações internas), sendo a maioria por razões económicas.
Estes números, por mais esforços que se
façam, dão apenas uma pálida ideia do que é o fenómeno migratório e a forma
como ele se vai transformando, cada vez mais com origem em múltiplos factores
explicativos: pobreza e desigualdades, conflitos, alterações climáticas e
insegurança.
Os obstáculos que alguns países colocam à
entrada de imigrantes tem levado à desistência de muitos para prosseguiram a
sua marcha até ao país de acolhimento, optando por se deterem em regiões pobres
sem uma situação regularizada, com tudo o que isto implica de não acesso a
direitos fundamentais, vulnerabilidade a toda a espécie de abusos e um número
incalculável de mortos e desaparecidos: a estimativa da OIM é de 28.500, desde
2014, mas outras estimativas, como a da Associated Press (A.P.), apontam para o
dobro, sem contar com os corpos por descobrir nos desertos e no mar. Só na travessia
com destino à África do Sul, 18400 africanos terão morrido antes de aí
chegarem.
Estará em marcha um movimento global capaz de
enquadrar as políticas de cada país face às migrações?
A resposta que encontramos é algo ambígua: são
preocupantes os sinais de fechamento de fronteiras a imigrantes que alguns
países europeus e os EUA vão transmitindo, tentando fazer crer que assim estão
a defender o interesse dos seus cidadãos. A União Europeia tarda em dar sinais
claros de defesa de uma política migratória coerente com os princípios e os
valores que proclama defender.
Sinal positivo constitui o Acordo
intergovernamental alcançado no âmbito da ONU, preparando a assinatura, até
final de 2018, de dois Pactos Globais assim designados:
- Pacto Global para uma Migração Segura
Ordeira e Regular;
- Pacto Global para Refugiados.
A Organização Internacional das Migrações
(OIM) será a coordenadora do primeiro daqueles Pactos, sendo certo que estes
instrumentos não têm força de lei, pelo que a sua eficácia dependerá do
empenhamento de cada país e dos recursos que entenda disponibilizar. É ainda difícil
de avaliar a dimensão do impacto negativo que terá o afastamento dos Estados
Unidos deste processo.
A circunstância da liderança da OIM ter sido
atribuída a um português – António Vitorino - com larga experiência nas
questões migratórias e a articulação facilitada com o actual Secretário Geral
da ONU, permite esperar que as questões que dizem respeito a ambos os Pactos
sejam correctamente analisadas - em muitas situações como se distingue um
imigrante de um refugiado?-.
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