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10 agosto 2018

Porque não estão mais jovens a entrar no Ensino Superior? Breve análise impressionista


Ouvimos recentemente dizer que ficou por preencher um número significativo de vagas para acesso ao Ensino Superior, embora ainda venha a haver uma segunda fase de colocações. Ao mesmo tempo, os meios de comunicação diziam-nos que tal se terá ficado a dever à “concorrência desleal” movida pelo mercado de trabalho já que os jovens com o 12º ano estariam a optar por aceder a um trabalho remunerado em vez de prosseguirem estudos a nível do Ensino Superior (ES).

Será mesmo assim? Convirá que se aprofunde um pouco mais este aspecto.

Se consultarmos as estatísticas da OCDE disponíveis na publicação Education at a Glance 2017 constatamos que a percentagem de diplomados com o ES tem vindo a aumentar sistematicamente entre os jovens portugueses dos 25 aos 34 anos, no período de 2000 a 2016. Apesar disso, a percentagem correspondente àquele último ano – 35% - situa-nos ainda muito aquém dos valores médios da OCDE e da maioria dos países europeus, revelando bem que ainda temos um importante gap a preencher neste domínio. Ilustrando uma tendência estrutural, aquela mesma publicação revela-nos, no entanto, que o sobre prémio de emprego associado a um nível de habilitações mais elevado é mínimo em Portugal, em 2016, para os jovens entre os 25 e os 34 anos[1]. Para os jovens para quem uma maior facilidade de emprego constitua o principal móbil para prosseguimento de estudos, o incentivo é, portanto, baixo entre nós.

Significará isto que, face aos encargos com o ES, aqueles jovens procurarão primeiro uma actividade remunerada para ajudar a financiar aqueles estudos, adiando assim a entrada nos mesmos? Parece-nos pouco provável já que o nosso País apresenta uma das percentagens mais elevadas da OCDE no que respeita à entrada no ES de jovens de menor idade.  Apesar das limitações da acção social, também no ES, aquela estratégia de financiamento não parece, portanto, ser muito significativa entre os nossos estudantes.
E o sobre prémio salarial associado ao ES? Esse, sim, é muito significativo em Portugal. Ainda segundo a mesma publicação, Quadro A.6.1., estabelecendo o índice 100 para o nível médio de ganhos associado ao emprego com o 12º ano, o índice sobe para 165 quando se considera a média de empregos com o ES, a maior variação verificada no conjunto dos países da OCDE objecto de análise…

Conclusão parcial: os jovens portugueses empregados têm em média um ganho muito superior se tiverem concluído o ES relativamente aos que se empregam apenas com o secundário completo. O que parece ser então decisivo é a probabilidade de emprego que, ao que vimos, continua relativamente insensível a níveis mais elevados de educação.
Mas poderemos concluir de imediato que os jovens que não estão a procurar entrar na Universidade e nos Institutos Politécnicos se encontram, então empregados?
Não é bem assim:


                                Fonte: Education at a Glance 2017



A análise dos gráfico e quadro anteriores mostra-nos que a diminuição percentual dos jovens em educação em 2016 (-0,5%) apenas parcialmente (0,2%) foi compensada por um aumento do emprego, tendo de atribuir-se uma percentagem ainda maior – 0,3% - à percentagem de jovens que não trabalham nem estudam (NEET), cuja tendência evolutiva continua, aliás, a ser de crescimento.

Antes fosse o mercado de trabalho o único responsável pela não entrada de mais jovens no Ensino Universitário! Mas não, também o não trabalhar nem estudar continua a concorrer para aquele facto. O que significa que cresce ainda a percentagem de jovens sem projecto de vida definido relativamente a qualquer das possíveis saídas.

Como pretendemos sugerir no título deste post, a análise que acabamos de fazer peca pela superficialidade. O número e diversidade de determinantes associados à decisão de prosseguir estudos superiores são vastos e complexos. Para um aprofundamento desta problemática sugerimos a consulta do estudo de Diana Aguiar Vieira Determinantes e Significados do Ingresso dos Jovens no Ensino Superior, promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, em 2018.





[1] Ver, designadamente, Figura A.5. c da publicação em referência.

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