Os
relatos que todos os dias nos chegam sobre a chegada à Europa de refugiados que
fogem de cenários de guerra e destruição, bem como de imigrantes que procuram
escapar a situações de pobreza e miséria nos seus países de origem, exigem que
sejam rapidamente encontradas soluções que ponham fim a um tão grande
sofrimento humano.
Ao
analisarmos as respostas que têm sido dadas pelos europeus para enfrentar este
desafio, podemos concluir por um falhanço generalizado, pese embora as boas
vontades de tantos cidadãos envolvidos, por vezes como simples voluntários, na
procura de soluções.
As
situações mais dramáticas são as resultantes da acção dos líderes políticos que
se recusam a participar no esforço de acolhimento, quando não mesmo de
salvamento no mar, destas pessoas. Há porém que reconhecer que muitos dos
países onde é mais fácil chegar por mar ou terra, como são os casos da Itália e
da Grécia, não têm contado com a solidariedade dos restantes Estados. Face a
dificuldades levantadas pelo acolhimento de um número inesperado de requerentes
de asilo ou de imigrantes (ainda que em volume significativamente inferior ao
de outros países, bem menos ricos do que os da velha Europa), tem-se procurado
colocá-los em países de trânsito, como a Turquia, a Líbia ou o Líbano, sem que
sejam devidamente acauteladas as condições a que vão ficar sujeitos.
Não
é possível falar sobre “valores europeus”, se nada for feito para solucionar
ou, pelo menos, reduzir substancialmente, o sofrimento por que estão a passar
tantos homens, mulheres e crianças. Para tanto, há que perguntar:
·
Não
haverá condições para acolher e integrar na Europa um número mais significativo
de refugiados e imigrantes do que aquele que se quer dar a entender?
·
Não
é possível levar mais a sério os esforços necessários para fazer investimentos
e criar empregos nos países de origem e de trânsito destas pessoas?
·
É
de todo impossível a coordenação dos esforços, a nível europeu, para dar
resposta aos problemas em presença?
As
respostas a estas questões não podem ser dadas através do reforço dos egoísmos
nacionais, o que mina a solidariedade entre os diferentes Estados europeus.
Importa referir que solidariedade não é caridade e que implica aceitar custos
de curto prazo a favor um interesse comum de longo prazo. O aumento do
populismo de extrema-direita e do sentimento anti-imigrantes na Europa são,
segundo Habermas, um sintoma e não uma doença. “A causa subjacente da regressão política é o desapontamento palpável
de que à União Europeia falta actualmente a necessária eficácia política para
contrariar as tendências da crescente desigualdade dentro e entre Estados Membros.
Em primeiro lugar e além do mais, o populismo de extrema-direita está a
beneficiar da percepção, largamente difundida, de que à União Europeia falta a
vontade política para se tornar politicamente efectiva”. Acrescenta
Habermas, que “Em vez disso, as elites
políticas estão a deixar-se invadir por um tímido oportunismo de manutenção
do poder a curto prazo”.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários estão sujeitos a moderação.