Ouvimos
recentemente dizer que ficou por preencher um número significativo de vagas para
acesso ao Ensino Superior, embora ainda venha a haver uma segunda fase de
colocações. Ao mesmo tempo, os meios de comunicação diziam-nos que tal se terá
ficado a dever à “concorrência desleal” movida pelo mercado de trabalho já que
os jovens com o 12º ano estariam a optar por aceder a um trabalho remunerado em
vez de prosseguirem estudos a nível do Ensino Superior (ES).
Será
mesmo assim? Convirá que se aprofunde um pouco mais este aspecto.
Se
consultarmos as estatísticas da OCDE disponíveis na publicação Education
at a Glance 2017 constatamos que a percentagem de diplomados com o ES
tem vindo a aumentar sistematicamente entre os jovens portugueses dos 25 aos 34
anos, no período de 2000 a 2016. Apesar disso, a percentagem correspondente
àquele último ano – 35% - situa-nos ainda muito aquém dos valores médios da
OCDE e da maioria dos países europeus, revelando bem que ainda temos um
importante gap a preencher neste
domínio. Ilustrando uma tendência estrutural, aquela mesma publicação
revela-nos, no entanto, que o sobre prémio de emprego associado a um nível de
habilitações mais elevado é mínimo em Portugal, em 2016, para os jovens entre
os 25 e os 34 anos[1].
Para os jovens para quem uma maior facilidade de emprego constitua o principal
móbil para prosseguimento de estudos, o incentivo é, portanto, baixo entre nós.
Significará
isto que, face aos encargos com o ES, aqueles jovens procurarão primeiro uma
actividade remunerada para ajudar a financiar aqueles estudos, adiando assim a
entrada nos mesmos? Parece-nos pouco provável já que o nosso País apresenta uma
das percentagens mais elevadas da OCDE no que respeita à entrada no ES de
jovens de menor idade. Apesar das
limitações da acção social, também no ES, aquela estratégia de financiamento
não parece, portanto, ser muito significativa entre os nossos estudantes.
E o
sobre prémio salarial associado ao ES? Esse, sim, é muito significativo em
Portugal. Ainda segundo a mesma publicação, Quadro A.6.1., estabelecendo o
índice 100 para o nível médio de ganhos associado ao emprego com o 12º ano, o
índice sobe para 165 quando se considera a média de empregos com o ES, a maior
variação verificada no conjunto dos países da OCDE objecto de análise…
Conclusão
parcial: os jovens portugueses empregados têm em média um ganho muito superior se
tiverem concluído o ES relativamente aos que se empregam apenas com o
secundário completo. O que parece ser então decisivo é a probabilidade de
emprego que, ao que vimos, continua relativamente insensível a níveis mais
elevados de educação.
Mas
poderemos concluir de imediato que os jovens que não estão a procurar entrar na
Universidade e nos Institutos Politécnicos se encontram, então empregados?
Não
é bem assim:
A
análise dos gráfico e quadro anteriores mostra-nos que a diminuição percentual
dos jovens em educação em 2016 (-0,5%) apenas parcialmente (0,2%) foi
compensada por um aumento do emprego, tendo de atribuir-se uma percentagem
ainda maior – 0,3% - à percentagem de jovens que não trabalham nem estudam
(NEET), cuja tendência evolutiva continua, aliás, a ser de crescimento.
Antes
fosse o mercado de trabalho o único responsável pela não entrada de mais jovens
no Ensino Universitário! Mas não, também o não trabalhar nem estudar continua a
concorrer para aquele facto. O que significa que cresce ainda a percentagem de
jovens sem projecto de vida definido relativamente a qualquer das possíveis
saídas.
Como
pretendemos sugerir no título deste post,
a análise que acabamos de fazer peca pela superficialidade. O número e
diversidade de determinantes associados à decisão de prosseguir estudos superiores
são vastos e complexos. Para um aprofundamento desta problemática sugerimos a
consulta do estudo de Diana Aguiar Vieira Determinantes
e Significados do Ingresso dos Jovens no Ensino Superior, promovido
pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, em 2018.
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