Um artigo hoje publicado no jornal Público
com o título “Vai ocorrer uma catástrofe que nos vai obrigar à regulação”-
afirmação de Gerd Leonhard -, apresenta algumas reflexões deste Futurista,
constantes da sua obra “Tecnologia Versus Humanidade”.
Quando as questões relacionadas com as novas
tecnologias estão na ordem do dia pelas piores razões, parece-nos do maior
interesse alargar o nossa tomada de consciência do que pode ser o impacto de
uma visão libertária, a qual atribui à tecnologia a capacidade para superar
todas as limitações da humanidade.
São fortes as imagens a que Gerd recorre para
ilustrar o risco do culto da eficiência,
esquecendo a condição de humanidade: os gigantes da tecnologia detém um
poder comparável ao das ”armas mais
poderosas alguma vez inventadas, e, como tal, são necessários tratados de não
proliferação”.
A sua opinião é que, face à dificuldade de
controlar, tanto a inteligência artificial como a manipulação genética, será
necessário um incidente grave para chegar à regulação.
Oxalá o futuro não confirme estas previsões,
mas será um mito afirmar a possibilidade do poder político para antecipar e
controlar as nefastas tendências de uma tecnologia sem freio? Não estará a ser
subestimada a intervenção das políticas tecnológicas?
Por vezes, os analistas reduzem o campo das
previsões á questão, sem dúvida importante, do impacto das novas tecnologias na
redução do emprego, discordando, aliás, largamente, na dimensão deste fenómeno.
O que recentemente foi conhecido sobre os
riscos de acesso e manipulação de dados do Facebook, veio tornar ainda mais
clara a necessidade de regulação neste e noutros domínios da tecnologia.
Um boa síntese das questões a que é preciso
dar atenção para formular uma política tecnológica encontra-se num artigo de
Michael J.Buskin, publicado em Project Syndicate de 25 de abril, com o título “
The Future of Tech Policy”.
A 1ª questão é a da privacidade, sendo certo que o Regulamento da U.E. para Protecção
de Dados, a iniciar em breve a sua vigência, não oferece qualquer protecção a
não europeus, para além de insuficientes garantias, por exemplo, no direito a
apagarem os seus dados.
A 2ª questão é o poder de mercado monopolista/oligopolista das empresas
tecnológicas, as quais tiveram a protecção de “ indústrias nascentes” e assim
se livraram de regulação e de impostos, actuando como barreira a novas empresas
ou produtos e, reforçando a sua dimensão por meio de concentrações ou fusões,
desafiam o poder de governos, mesmo os mais poderosos.
A 3ª questão refere-se ao controlo da informação, pois a
facilidade de aceder a plataformas online, relega para segundo plano outras fontes
que merecem maior credibilidade.
A 4ª questão está relacionada com a concentração de riqueza nas mãos dos
gigantes da tecnologia, em contraste com décadas de muito lento crescimento de salários
(excepto alguns trabalhadores no sector tecnológico), o que está a criar uma
violenta reacção política.
Finalmente, a 5ª questão afigura-se ser da
maior importância pois trata-se do domínio da segurança nacional e dos interesses económicos nacionais: a
possibilidade de um ciber ataque está ao alcance dos vários gigantes da
tecnologia.
Todas estas questões irão influenciar o futuro
da política tecnológica e, dessa forma, as inovações futuras e os seus benefícios
para a sociedade.
Ignorar as consequências de deixar ao livre
arbítrio de meia dúzia de poderosos, que estão primordialmente interessados nos
seus lucros, o caminho da evolução tecnológica, parece muito próximo de um
crime contra a humanidade.
E há tantas carências verdadeiras que a
tecnologia podia resolver!
Se queremos que as gerações futuras vivam em
paz, há que não subestimar nenhuma das questões suscitadas pelo avanço tecnológico,
por muito difíceis que sejam as soluções.
Indispensável é criar as bases de uma outra
forma de pensar o problema, numa sociedade em que as pessoas facilmente se
deixam aprisionar pelos encantos da última novidade tecnológica.
O apelo de Gerd para que seja dado o lugar
central à dimensão ética na utilização da tecnologia, não substituindo a consciência pela conveniência, talvez possa
evitar a catástrofe a que ele se refere.
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