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30 abril 2018

A Evolução Tecnológica e a sua regulação


Um artigo hoje publicado no jornal Público com o título “Vai ocorrer uma catástrofe que nos vai obrigar à regulação”- afirmação de Gerd Leonhard -, apresenta algumas reflexões deste Futurista, constantes da sua obra “Tecnologia Versus Humanidade”.

Quando as questões relacionadas com as novas tecnologias estão na ordem do dia pelas piores razões, parece-nos do maior interesse alargar o nossa tomada de consciência do que pode ser o impacto de uma visão libertária, a qual atribui à tecnologia a capacidade para superar todas as limitações da humanidade.

São fortes as imagens a que Gerd recorre para ilustrar o risco do culto da eficiência, esquecendo a condição de humanidade: os gigantes da tecnologia detém um poder comparável ao das ”armas mais poderosas alguma vez inventadas, e, como tal, são necessários tratados de não proliferação”.

A sua opinião é que, face à dificuldade de controlar, tanto a inteligência artificial como a manipulação genética, será necessário um incidente grave para chegar à regulação.

Oxalá o futuro não confirme estas previsões, mas será um mito afirmar a possibilidade do poder político para antecipar e controlar as nefastas tendências de uma tecnologia sem freio? Não estará a ser subestimada a intervenção das políticas tecnológicas?

Por vezes, os analistas reduzem o campo das previsões á questão, sem dúvida importante, do impacto das novas tecnologias na redução do emprego, discordando, aliás, largamente, na dimensão deste fenómeno.

O que recentemente foi conhecido sobre os riscos de acesso e manipulação de dados do Facebook, veio tornar ainda mais clara a necessidade de regulação neste e noutros domínios da tecnologia.

Um boa síntese das questões a que é preciso dar atenção para formular uma política tecnológica encontra-se num artigo de Michael J.Buskin, publicado em Project Syndicate de 25 de abril, com o título “ The Future of Tech Policy”.

A 1ª questão é a da privacidade, sendo certo que o Regulamento da U.E. para Protecção de Dados, a iniciar em breve a sua vigência, não oferece qualquer protecção a não europeus, para além de insuficientes garantias, por exemplo, no direito a apagarem os seus dados.

A 2ª questão é o poder de mercado monopolista/oligopolista das empresas tecnológicas, as quais tiveram a protecção de “ indústrias nascentes” e assim se livraram de regulação e de impostos, actuando como barreira a novas empresas ou produtos e, reforçando a sua dimensão por meio de concentrações ou fusões, desafiam o poder de governos, mesmo os mais poderosos.
A 3ª questão refere-se ao controlo da informação, pois a facilidade de aceder a plataformas online, relega para segundo plano outras fontes que merecem maior credibilidade.

A 4ª questão está relacionada com a concentração de riqueza nas mãos dos gigantes da tecnologia, em contraste com décadas de muito lento crescimento de salários (excepto alguns trabalhadores no sector tecnológico), o que está a criar uma violenta reacção política.

Finalmente, a 5ª questão afigura-se ser da maior importância pois trata-se do domínio da segurança nacional e dos interesses económicos nacionais: a possibilidade de um ciber ataque está ao alcance dos vários gigantes da tecnologia.

Todas estas questões irão influenciar o futuro da política tecnológica e, dessa forma, as inovações futuras e os seus benefícios para a sociedade.

Ignorar as consequências de deixar ao livre arbítrio de meia dúzia de poderosos, que estão primordialmente interessados nos seus lucros, o caminho da evolução tecnológica, parece muito próximo de um crime contra a humanidade.

E há tantas carências verdadeiras que a tecnologia podia resolver!

Se queremos que as gerações futuras vivam em paz, há que não subestimar nenhuma das questões suscitadas pelo avanço tecnológico, por muito difíceis que sejam as soluções.

Indispensável é criar as bases de uma outra forma de pensar o problema, numa sociedade em que as pessoas facilmente se deixam aprisionar pelos encantos da última novidade tecnológica.

O apelo de Gerd para que seja dado o lugar central à dimensão ética na utilização da tecnologia, não substituindo a consciência pela conveniência, talvez possa evitar a catástrofe a que ele se refere.

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