A
expressão que mais me chamou a atenção quando Angela Merkel, numa das zonas
mais afectadas pelas catastróficas cheias, se referiu à necessária e urgente
ajuda, foi “dar a ajuda imediata não burocrática” (sublinhado meu), pois
tudo se deve fazer para que o dinheiro “chegue depressa às pessoas”, e
acrescentava: “eu espero queseja uma coisa de dias”. Claro que a reconstrução e
especialmente das infraestruturas exige muito mais tempo que dias ou semanas.
Nesse
órgão de comunicação social alemão, onde vi a reportagem ontem, dizia-se que
hoje, quarta-feira, 21 de Julho, o governo decidiria sobre o programa
financeiro de ajuda imediata. E assim foi. Hoje, no mesmo órgão de comunicação
social pude ler, às 13h30, que praticamente uma semana depois das devastadoras cheias,
o governo federal decidiu as ajudas imediatas para as regiões afectadas pelas
cheias, conforme anunciou o ministro das finanças Olaf Scholz (SPD). Para
começar, 400 milhões de euros (metade do governo federal e a outra metade a
gerir pelos estados federados atingidos). E também ele falava no “não
burocraticamente” ao dizer “faremos tudo o que é necessário”. A mesma mensagem
foi dada pelo ministro do interior, Seehofer (CDU) : “trata-se de apoiar
pessoas que perderam completamente tudo”.
Bem,
poderá dizer-se: mas onde está a novidade?, não é a Alemanha um país rico,
muito longe dos problemas de dívida de países como Portugal? Aliás, nem admira
que a nossa comunicação social não fale disto.
O
ponto é que não se trata apenas da rapidez de resposta. É que o “não
burocraticamente” implica não só a consciência da necessidade absoluta em que
se encontram as pessoas, nem mesmo de que a catástrofe é já uma consequência
das alterações climáticas (como acentuou o ministro Scholz), implica também que
se confia nos cidadãos, ao não fazer depender a ajuda da “prova de necessidade”
(como mostra o ministro do interior Seehofer) perante perdas evidentes. Daqui a
Portugal a distância já não é da dimensão de quilómetros, é da capacidade de
afastar a burocracia quando a necessidade é evidente.
Muito oportuna chamada de atenção. O click está em saber perceber que, em tempo de catástrofe, mesmo que a burocracia permitisse evitar gastos não justificados, ela, pela sua natureza e pelo simples facto de intervir, ao introduzir maiores tempos de decisão e não dando resposta a problemas de tão só de sobrevivência, vai causar prejuízos incomparavelmente superiores aos que seriam evitados com a burocracia. E estou a falar da "boa burocracia" ! . . . Não podemos esquecer que a burocracia tem uma componente de "organização", o que é bom, mas tem, também, a perniciosa componente do poder do pequeno tiranete. É necessário valorizar a primeira e perseguir a segunda
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