O interesse que sempre suscita o
acompanhamento da evolução do PIB, se bem que compreensível (pois esta medida
está relacionada, ou condiciona, aspectos fundamentais do bem-estar, como por
exemplo, o nível de emprego ou a capacidade de assegurar bens públicos ou
serviços de interesse geral) ultrapassa frequentemente o que seria
justificado, pois são conhecidas as limitações deste indicador.
Os maiores ritmos de crescimento do PIB de
certos países ou regiões são por vezes tomados como exemplo a seguir, sem a
devida ponderação dos pontos de partida, das diferentes condições económicas e
sociais ou das escolhas políticas em cada caso.
Julgamos assim de saudar que as crescentes
preocupações com a degradação do ambiente, bem como as manifestações de revolta
pelas desigualdades económicas, estejam a contribuir para animar o debate entre
economistas e outros cientistas sociais acerca do valor excessivo que é
atribuído à velocidade de crescimento do PIB, em detrimento de indicadores de bem-estar
social e do seu impacto sobre as gerações futuras.
O artigo de John Cassidy[1], publicado a 3 de
fevereiro na Revista The New Yorker, cujo título, em tradução livre, usamos
neste post, parece-nos muito útil pelo panorama abrangente que traça das ideias
que têm vindo a ser apresentadas por diferentes autores sobre os limites ao
crescimento: um PIB elevado pode ser insustentável, sobretudo quando já se alcançaram
valores muito elevados de riqueza.
A
referência de Cassidy ao livro de Dietrich Vollrath, da Universidade de Houston,
com o título “ Fully Grown: Why a Stagnant Economy Is a Sign of Success”, sendo
um exemplo de como aquela questão é causa de preocupação, serve também para
mostrar como o pensamento mainstreem
encara as respectivas soluções.
Assim, ao contrário de outros autores que
argumentam com a necessidade de políticas específicas para promover menor
crescimento em defesa do ambiente ou para reduzir as desigualdades, Vollrath
sustenta que, nos EUA, o abrandamento do PIB percapita resulta apenas da
redução da população activa e da orientação das escolhas individuais para a
procura de serviços, ideia central da ortodoxia económica. Se o mesmo suceder nas
outras economias mais avançadas, atingir-se-ia, apesar do crescimento mais
lento, um assinalável crescimento global do PIB até ao final do século.
Mas
será este cenário sustentável, como parece ser também a opinião dos proponentes
do “crescimento verde”, confiantes na tecnologia e nas forças de mercado para
possibilitar um tipo de crescimento mais limpo e menos consumidor de recursos?
A resposta de John Cassidy, encontra-se, em
síntese na seguinte frase:
”alinhemos
ou não com este optimismo sobre a tecnologia, é claro que qualquer estratégia abrangente
de decrescimento teria de fazer face aos conflitos de distribuição no mundo
desenvolvido e à pobreza no mundo em desenvolvimento”.
Sendo certo que algumas medidas têm vindo a
ser estudas e propostas, como por exemplo a partilha de tempos de trabalho, o
rendimento básico universal ao nível da subsistência, o emprego público, etc.,
há que reconhecer que tal implica o recurso a impostos mais elevados, em
particular sobre os mais ricos.
A dificuldade de por em prática uma política
redistributiva, vencendo a resistência dos que a ela se opõem, é apenas uma
parte do problema, como se pode constatar a partir do último parágrafo do texto
em análise que transcrevemos:
“Finally,
rethinking economic growth may well require loosening the grip on modern life
exercised by competitive consumption, which undergirds the incessant demand for
expansion. Keynes, a Cambridge aesthete, believed that people whose basic
economic needs had been satisfied would naturally gravitate to other,
non-economic pursuits, perhaps embracing the arts and nature. A century of experience
suggests that this was wishful thinking. As Raworth writes, “Reversing
consumerism`s financial and cultural
dominance in public and private life is set to be one of the twenty-first
century`s most gripping psycological dramas”.
Estamos assim inelutavelmente no limiar de um
exigente processo de transformação de estruturas e comportamentos que, queremos
esperar, conduzirá a uma distribuição mais justa e respeitadora do
ambiente.
O uso mais razoável dos recursos, actualmente
desbaratados em satisfazer uma procura artificialmente alimentada por forças de
mercado, torna possível a concretização de uma outra politica económica, ao
serviço do desenvolvimento sustentável e inclusivo.
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