A descoberta, em meados do século XIX, da possibilidade de utilização de uma energia fóssil de fácil extracção, à época, e, portanto, barata – o petróleo – veio proporcionar, desde então , um progresso material indesmentível.
Mas, contrariamente ao que um número de teóricos influentes defendia, este crescimento económico não trouxe “o paraíso” à Terra.
O slogan “é preciso criar riqueza para depois reparti-la” não se verificou. A riqueza tem sido sempre repartida simultaneamente à sua criação e desvalorizando o factor trabalho de tal forma que hoje as 8 famílias mais ricas do planeta detêm um património equivalente ao da metade mais pobre da população mundial (mais de 3,8 mil milhões de seres humanos).
E, não obstante o nível de desenvolvimento científico e tecnológico de que hoje dispomos, continuam a morrer milhares de pessoas por subnutrição e privam-se milhões de outras das condições básicas inerentes à dignidade humana. Segundo a UNICEF, 380 milhões de crianças no mundo vivem em pobreza extrema.
Por outro lado, os meios de comunicação social vão-nos dando conta da frequência e intensidade cada vez maiores de fenómenos climáticos extremos. As populações vão assim tomando consciência crescente do agravamento das condições de habitabilidade no planeta que a todos acolhe e suporta.
E, tanto quanto a ciência nos permite concluir, este é o único lugar onde existem tais condições, o único sítio onde se pode viver.
Enfim, o desfasamento entre a realidade (quer do ponto de vista económico e social, quer do ponto de vista ambiental), por um lado, e o pensamento, discurso e comportamento dos detentores dos grandes interesses económicos e dos políticos que os servem, por outro, é tal que uma simples frase de um estudante do ensino secundário, proferida aquando da greve climática estudantil do passado dia 15 de Março (“Há que respeitar o ambiente e só depois a economia”) se revela mais sábia que um discurso de qualquer ministro das Finanças.
Efectivamente, sem condições de vida na Terra não há economia possível.
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