Lê-se a imprensa diária e
semanal portuguesa e dificilmente se apanha uma notícia sobre um facto
importante que se avizinha: estamos apenas a três dias da realização da cimeira
sino-europeia. Quais os antecedentes mais significativos deste encontro de alto
nível? Quais as expectativas, ou receios, da União Europeia (U. E.) e do Sr.
Xin Jinping?
A verdade é que a opinião
pública portuguesa, anestesiada pelos faits-divers
das relações familiares na política e da reinterpretação ad nauseam do significado
dos discursos políticos a tal respeito, pouco ou nada se tem debruçado sobre
aquele assunto. Notícias esparsas vão dando conta das deslocações do presidente
Xi a diferentes países europeus, como Portugal, a França, a Itália. Pouco se
vai, no entanto, ao fundo das questões, pouco se debate ou se questiona sobre
aspectos como[1]:
- a coincidência no tempo
das visitas europeias do presidente chinês com a crise despoletada pela
iminência do Brexit e a aproximação das eleições para o Parlamento Europeu;
- o verdadeiro interesse,
por parte da China, em fazer associar à nova Rota da Seda (BRI – Belt and Road
Initiative) o maior número possível de estados europeus (e não só);
- as diferenças de atitude
dos países europeus visitados, especialmente a França e a Itália: enquanto o
Sr. Macron convidou também a chanceler Ângela Merkel e o presidente da Comissão
Europeia para as reuniões com Xi Jinping, o governo populista italiano assinou
unilateralmente um memorando de entendimento com a China com vista à adesão àquela
Rota…
O que se pode deduzir destes
factos? Como em post anterior
referíamos, a política de investimentos estratégicos associada à BRI tem vindo
a traduzir-se na contracção de importantes dívidas por parte dos “beneficiários”
à economia chinesa. O que sucede com tanto mais probabilidade quanto mais fracas,
ou ausentes, forem as políticas de investimento dos países destinatários.
Não admira, assim, que se
multipliquem as opiniões que defendem a necessidade de a U.E. se apresentar
como um bloco unificado face à estratégia chinesa, já que a importância
estratégica daquele investimento em cada estado membro pode afectar a evolução
do conjunto.
Será que, havendo condições
para tal, se irá ainda a tempo? O processo do Brexit e suas atribulações, a
posição isolacionista da Itália e as dificuldades sistemáticas da União em
chegar a políticas comuns não parecem prenunciar um desfecho positivo para uma
tal resposta unificada.
[1] Para
maior aprofundamento ver, por exemplo, Project-Syndicate de 27 de Março de 2019, em
https://www.project-syndicate.org/commentary/europe-must-unite-on-china-policy-by-guy-verhofstadt-2019-03.
https://www.project-syndicate.org/commentary/europe-must-unite-on-china-policy-by-guy-verhofstadt-2019-03.
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