Num artigo recente de
Mohamed A. El-Erian aqui, perguntava-se porque é que a Itália era a última a
questionar a ortodoxia da política económica, a propósito da disputa do governo
italiano com a Comissão Europeia sobre o limite permitido para o seu défice
orçamental em 2019, em cumprimento das regras fixadas para a zona euro.
O objectivo prosseguido
pelo governo italiano é o de atingir agora um défice maior, com vista a gerar
um crescimento e um potencial crescimento mais elevados. Refira-se que, em 2015,
o governo do Syriza, na Grécia, já tinha tentado abandonar uma aproximação
convencional, adoptada pelos seus predecessores, tendo para o efeito convocado
um referendo. A ameaça de perda da condição de membros da zona euro obrigou
porém a regressar à ortodoxia política.
O apelo para a adopção
de uma via de política económica não ortodoxa é o resultado de anos de
crescimento lento e insuficientemente inclusivo, aliado às preocupações
levantadas por desigualdades crescentes de rendimentos, riqueza e
oportunidades. “Estes factores
prejudicaram o potencial actual e futuro das economias avançadas, alienaram
segmentos significativos da população, erodiram a credibilidade do
establishment e da opinião dos peritos e alimentaram as políticas do medo”.
Ainda que estas
propostas tenham sido apresentadas por um governo que, a vários títulos, merece
as mais fundadas reservas, afigura-se que o desafio em presença é digno de uma
reflexão cuidada. Em particular, julga-se que os tradeoffs implícitos na aproximação
mainstream da política económica precisam de ser quantificados cuidadosamente e
comunicados com clareza. Depois, terão que ser confrontados com as alternativas
construídas pelas políticas não ortodoxas, também convenientemente explicitadas.
Talvez seja então possível avaliar da “bondade” de muitos dos pressupostos em
que assenta a política económica dominante e, em particular, das regras constantes
da zona euro.
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