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27 outubro 2018

A Itália e a não ortodoxia económica


Num artigo recente de Mohamed A. El-Erian aqui, perguntava-se porque é que a Itália era a última a questionar a ortodoxia da política económica, a propósito da disputa do governo italiano com a Comissão Europeia sobre o limite permitido para o seu défice orçamental em 2019, em cumprimento das regras fixadas para a zona euro.

O objectivo prosseguido pelo governo italiano é o de atingir agora um défice maior, com vista a gerar um crescimento e um potencial crescimento mais elevados. Refira-se que, em 2015, o governo do Syriza, na Grécia, já tinha tentado abandonar uma aproximação convencional, adoptada pelos seus predecessores, tendo para o efeito convocado um referendo. A ameaça de perda da condição de membros da zona euro obrigou porém a regressar à ortodoxia política.

O apelo para a adopção de uma via de política económica não ortodoxa é o resultado de anos de crescimento lento e insuficientemente inclusivo, aliado às preocupações levantadas por desigualdades crescentes de rendimentos, riqueza e oportunidades. “Estes factores prejudicaram o potencial actual e futuro das economias avançadas, alienaram segmentos significativos da população, erodiram a credibilidade do establishment e da opinião dos peritos e alimentaram as políticas do medo”.

Ainda que estas propostas tenham sido apresentadas por um governo que, a vários títulos, merece as mais fundadas reservas, afigura-se que o desafio em presença é digno de uma reflexão cuidada. Em particular, julga-se que os tradeoffs implícitos na aproximação mainstream da política económica precisam de ser quantificados cuidadosamente e comunicados com clareza. Depois, terão que ser confrontados com as alternativas construídas pelas políticas não ortodoxas, também convenientemente explicitadas. Talvez seja então possível avaliar da “bondade” de muitos dos pressupostos em que assenta a política económica dominante e, em particular, das regras constantes da zona euro.


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