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25 outubro 2018

Motivação dos estudantes no Ensino Superior: nada a ver com os professores?


Em post anterior referíamo-nos a algumas das principais razões pelas quais os estudantes portugueses estão a afluir em menor proporção ao Ensino Superior. Constatávamos também, com base no relatório Eurostudent então referenciado, que os nossos alunos conhecem tempos de interrupção médios entre o fim do Secundário e o início do Superior bastante superiores aos dos seus colegas europeus. Destacam-se as razões económicas como principais responsáveis mas, como sublinhávamos, os aspectos de natureza motivacional constituem factores da maior importância embora poucas vezes tidos em conta. A não consideração destes últimos aspectos não permite analisar situações como a de “nem trabalho nem estudo” ou do abandono no Ensino Superior, na sua real dimensão.

Focando um pouco mais detalhadamente as questões motivacionais, observamos que, de acordo com a informação disponibilizada pelo Eurostudent, os alunos universitários portugueses associam o seu maior grau de satisfação à qualidade do ensino. No âmbito de trabalhos desenvolvidos sobre as razões do insucesso escolar no Ensino Superior, constatámos também o importante papel desempenhado pela interacção entre os factores académicos e os motivacionais e atitudinais na promoção do sucesso académico, neste caso relativamente a Matemática. Da aplicação do inquérito então realizado[1] obtiveram-se resultados de que destacamos[2]:

- o nível escolar dos pais – e, especialmente da mãe – está positivamente correlacionado com maior motivação e mais elevadas expectativas académicas e profissionais dos alunos; talvez por isso mesmo se explique que aquele nível contribui grandemente para o sucesso escolar efectivo dos estudantes, resultado bem conhecido e tantas vezes comprovado. O baixo nível educacional médio da geração portuguesa entre os 40 e os 60 anos – geração dos pais dos estudantes – não deixará, decerto, de contribuir também para explicar a maior desmotivação;

- a motivação e o empenhamento dos estudantes universitários dependem significativamente das expectativas que eles e os seus pais tecem relativamente ao futuro profissional associado à formação em causa;

- a motivação, confiança e sentido de auto-eficácia dos alunos do Ensino Superior dependem muito do sucesso relativo durante as trajectórias escolares anteriores;

E, em particular,

- os perfis escolares de “empenhamento, confiança e motivação”, por oposição aos de “desmotivação e bloqueio”, dependem muito positivamente do interesse despertado pelas aulas, da disponibilidade do professor para atendimento complementar e de outras medidas pedagógicas complementares.

Compreende-se bem que só uma abordagem multidimensional que contemple também factores de índole psicológica, e não apenas de natureza escolar, poderá abarcar as razões do insucesso no Ensino Superior.

Mas já se estranha bastante ouvir afirmações como a de que “Não é o professor que tem de motivar os alunos” no Ensino Superior[3]

Com efeito, não será a ele que caberá esse papel e tal responsabilidade, dados os factos constatados. Mas a sua intervenção como conhecedor e especialista, enquanto divulgador do conhecimento científico, em resultado do seu trabalho como investigador e, muito especialmente, enquanto elemento privilegiado no esclarecimento e apoio directo aos alunos, é inegavelmente decisiva. Por muito que os alunos cheguem à universidade adultos e autónomos. E apesar da desvalorização atávica de que a Pedagogia tem sido objecto no Ensino Superior.







[1] E que bem merecia ser repetido, já que teve lugar em 2012.
[2] Margarida Chagas Lopes e Graça Leão Fernandes (2012). A comprehensive approach towards academic failure.The case of Mathematics I in ISEG graduation, disponível em https://ideas.repec.org/p/soc/wpaper/wp062012.html.
[3] Carlos Fiolhais, em entrevista no âmbito do Simpósio Internacional sobre Docência no Ensino Superior. Disponível no Público de 25 de Outubro de 2018 (https://www.publico.pt/2018/10/25/sociedade/noticia/nao-professor-motivar-alunos-ensino-superior-1848783).

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