Em post anterior referíamo-nos a algumas
das principais razões pelas quais os estudantes portugueses estão a afluir em
menor proporção ao Ensino Superior. Constatávamos também, com base no relatório
Eurostudent então referenciado, que os nossos alunos conhecem tempos de
interrupção médios entre o fim do Secundário e o início do Superior bastante
superiores aos dos seus colegas europeus. Destacam-se as razões económicas como
principais responsáveis mas, como sublinhávamos, os aspectos de natureza
motivacional constituem factores da maior importância embora poucas vezes tidos
em conta. A não consideração destes últimos aspectos não permite analisar situações
como a de “nem trabalho nem estudo” ou do abandono no Ensino Superior, na sua
real dimensão.
Focando
um pouco mais detalhadamente as questões motivacionais, observamos que, de
acordo com a informação disponibilizada pelo Eurostudent, os alunos
universitários portugueses associam o seu maior grau de satisfação à qualidade
do ensino. No âmbito
de trabalhos desenvolvidos sobre as razões do insucesso escolar no Ensino
Superior, constatámos também o importante papel desempenhado pela interacção
entre os factores académicos e os motivacionais e atitudinais na promoção do
sucesso académico, neste caso relativamente a Matemática. Da aplicação do
inquérito então realizado[1]
obtiveram-se resultados de que destacamos[2]:
-
o nível escolar dos pais – e, especialmente da mãe – está positivamente
correlacionado com maior motivação e mais elevadas expectativas académicas e
profissionais dos alunos; talvez por isso mesmo se explique que aquele nível
contribui grandemente para o sucesso escolar efectivo dos estudantes, resultado
bem conhecido e tantas vezes comprovado. O baixo nível educacional médio da
geração portuguesa entre os 40 e os 60 anos – geração dos pais dos estudantes –
não deixará, decerto, de contribuir também para explicar a maior desmotivação;
-
a motivação e o empenhamento dos estudantes universitários dependem
significativamente das expectativas que eles e os seus pais tecem relativamente
ao futuro profissional associado à formação em causa;
-
a motivação, confiança e sentido de auto-eficácia dos alunos do Ensino Superior
dependem muito do sucesso relativo durante as trajectórias escolares
anteriores;
E,
em particular,
-
os perfis escolares de “empenhamento,
confiança e motivação”, por oposição aos de “desmotivação e bloqueio”, dependem
muito positivamente do interesse
despertado pelas aulas, da disponibilidade
do professor para atendimento complementar e de outras medidas pedagógicas
complementares.
Compreende-se
bem que só uma abordagem multidimensional que contemple também factores de
índole psicológica, e não apenas de natureza escolar, poderá abarcar as razões
do insucesso no Ensino Superior.
Mas
já se estranha bastante ouvir afirmações como a de que “Não é o professor que
tem de motivar os alunos” no Ensino Superior[3].
Com efeito, não será SÓ a ele que
caberá esse papel e tal responsabilidade, dados os factos constatados. Mas a
sua intervenção como conhecedor e especialista, enquanto divulgador do
conhecimento científico, em resultado do seu trabalho como investigador e,
muito especialmente, enquanto elemento privilegiado no esclarecimento e apoio
directo aos alunos, é inegavelmente decisiva. Por muito que os alunos cheguem à
universidade adultos e autónomos. E apesar da desvalorização atávica de que a
Pedagogia tem sido objecto no Ensino Superior.
[1] E que
bem merecia ser repetido, já que teve lugar em 2012.
[2]
Margarida Chagas Lopes e Graça Leão Fernandes (2012). A comprehensive
approach towards academic failure.The case of Mathematics I in ISEG graduation, disponível em https://ideas.repec.org/p/soc/wpaper/wp062012.html.
[3] Carlos
Fiolhais, em entrevista no âmbito do Simpósio Internacional sobre Docência no
Ensino Superior. Disponível no Público de 25 de Outubro de 2018 (https://www.publico.pt/2018/10/25/sociedade/noticia/nao-professor-motivar-alunos-ensino-superior-1848783).
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