É convicção
generalizada que a resolução saída da última cimeira da União Europeia sobre a
crise migratória é pobre em soluções e levanta dúvidas acrescidas sobre a
protecção dos direitos humanos nos centros regionais de desembarque a localizar
na Europa e fora da Europa. Tratou-se sobretudo de uma tentativa para
satisfazer a Itália e para “salvar” Angela Merkel.
Com efeito, os números
respeitantes ao corrente ano apontam para uma entrada na Europa de cerca de 42
mil migrantes indocumentados, o que está muito longe dos valores registados nos
anos mais recentes e, em particular, dos verificados em 2015 (1,3 milhões de
requerentes de asilo). Por isso, são cada vez mais os analistas que defendem
que a actual crise migratória tem mais a ver com as percepções entretanto criadas
do que com os números em presença.
De acordo com um estudo
realizado para 20 nações europeias (aqui), que explora as relações entre as
atitudes face à imigração e factores sociais, “os países com uma percentagem
negligenciável de imigrantes são os mais hostis, enquanto os países com maior
presença de imigrantes são mais tolerantes”. Sendo assim, pode-se concluir que
as atitudes anti imigrantes têm pouco a ver com os migrantes, pese embora o
facto que mesmo em países tradicionalmente favoráveis à imigração se começam a
detectar movimentos de anti imigração e de extrema-direita.
No espaço deixado em
aberto pela ausência de políticas sociais inclusivas e anti austeritárias, surgiram
e reforçaram-se os grupos populistas e a retórica anti imigração, tornando os
migrantes responsáveis pelos problemas económicos sentidos pelas comunidades.
A defesa de um maior controlo
dos fluxos migratórios assume uma posição dominante, existindo também vozes que
argumentam a favor da liberalização deste controlo. Ora, se a crise está enraizada
em factores que não estão relacionados com as migrações, qualquer daquelas
posições não resolve a situação, argumenta Kenan Malik, no Guardian. Segundo
este comentador, um bom princípio de partida é começar por definir a verdadeira
questão com que nos defrontamos e para a qual precisamos de respostas. Entre as
causas da actual crise, Malik chama a atenção para a falta de confiança nas
instituições, o enfraquecimento da coesão social e o desencanto com a política.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários estão sujeitos a moderação.